terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Um Santo Vizinho

Bill Murray. Precisa dizer mais? Com 64 anos, poucos atores são tão desencanados com a própria imagem quanto Murray, que pode ser tão ranzinza e engraçado quanto seus personagens. 

Ele é Vincent, um cara que é o que os americanos gostam de chamar de "loser" (um fracassado). Tem mais que cinquenta anos, está desempregado, devendo para todo mundo e ainda age como um adolescente. Bate ponto em um bar todas as noites, gasta o que não tem nas corridas de cavalos e, uma vez por semana, transa com Daka, uma prostituta russa que está grávida; Daka é interpretada por uma irreconhecível Naomi Watts ("Birdman"), "feia", boca suja e com um sotaque carregado.

Um dia Vincent  ganha vizinhos novos, a mãe solteira Maggie (Melissa McCarthy) e o filho dela, Oliver (Jaeden Lieberher). Maggie trabalha até tarde em um hospital e não tem com quem deixar Oliver depois da escola. Precisando de dinheiro, Vincent se oferece para ser "babá" do garoto. É bastante duvidoso que uma mãe deixaria o filho nas mãos dele, mas a relação entre Vincent e o menino, principalmente por mérito de Bill Murray, é engraçada e frequentemente tocante. Escrito e dirigido por Theodore Melfi (em seu primeiro longa metragem), "St. Vincent" é um filme pequeno e despretensioso, o que é bem vindo.


Se ele pode ser acusado de alguma coisa (e realmente pode) é de sentimentalismo. Há uma subtrama envolvendo a esposa de Vincent (que tem Alzheimer) que poderia estar em outro filme. Vincent visita a mulher em uma casa de repouso e só consegue conversar com ela se fazendo passar por médico, já que ela não o reconhece. O homem mal humorado desaparece e surge um marido com o coração partido e completamente devotado à esposa. Ponto para Bill Murray por conseguir fazer com que as contradições do personagem pareçam plausíveis. O modo como ele olha para a mulher conta histórias inteiras.

Há várias semelhanças com "Gran Torino", em que Clint Eastwood também interpreta um velho turrão que não quer contato com ninguém. O final, bastante açucarado, também é bastante previsível, o que não é ruim, mas o filme funciona melhor quando mostra o mundo de forma irônica.

João Solimeo
Câmera Escura

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