domingo, 22 de março de 2009

Gran Torino

Walt Kowalski é o típico americano tradicional. Veterano de guerra, durão, racista e incompreendido pelos filhos, ele vive sozinho em uma casa de Detroit. A esposa morreu recentemente e ele passa o dia sentado na varanda, tomando cerveja, "conversando" com o cachorro e reclamando da decadência da vizinhança. Ex-funcionário da Ford, ele guarda na garagem uma relíquia, um carro Gran Torino, 1972, que ele mesmo montou nos seus dias de linha de montagem. Na casa vizinha mora uma família de asiáticos do povo Hmong (originalmente da região do Laos e Vietnam). Eles também são tradicionais à sua maneira, e o filho mais novo, Thao (Ben Vang), está tendo problemas com uma gangue. Eles querem que ele se "inicie" no grupo roubando o Gran Torino de Kowalski. Thao falha na tarefa e ainda é quase morto por Kowalski que, armado de um rifle, embosca o rapaz dentro da garagem. Para se redimir do crime de Thao, a família Hmong oferece seus serviços para Kowalski, e uma relação que mistura repulsa e amizade se inicia.

O filme é dirigido e interpretado por Clint Eastwood, que já se tornou uma lenda viva. Há boatos de que este seja seu último filme como ator, o que seria uma pena. Clint faz de Kowalski uma caricatura de sua personagem cinematográfica mais conhecida, o policial durão "Dirty Harry". Mas Eastwood é muito mais esperto e "antenado"; os tempos mudaram, acabou a era Bush e é hora de se abrir para o mundo e aceitar suas diferenças. O modo como o velho Kowalski se aproxima lentamente da família de asiáticos é engraçado e tocante. Também é interessante o "assédio" que ele recebe do jovem padre da paróquia local, que havia prometido à esposa de Kowalski que o faria se confessar. Kowalski chama o rapaz de "um virgem de 27 anos educado demais e que não entende nada da vida e da morte". Veterano da Guerra da Coréia, Kowalski viu a morte de frente tanto nos companheiros que perdeu quanto nos jovens que teve que matar. "O pior não é o que você foi obrigado a fazer", diz ele ao padre, "mas o que você fez mesmo não sendo obrigado".

Trabalhando com atores em sua maioria amadores, Eastwood faz um filme de baixo orçamento e que se passa quase todo em apenas algumas ruas. Quase todos os americanos se mudaram da vizinhança de Kowalski e a região está tomada por imigrantes asiáticos ou comunidades negras. Ele salva a irmã de Thao, Sue (Ahney Her, muito bem no filme), de um grupo que quer atacá-la, em uma cena em que Eastwood, novamente, parodia "Dirty Harry", usando a mão como quem carrega uma Magnum 44. O filme se equilibra entre a comédia leve e o drama sério. Mais para o final as coisas vão ficando mais pesadas e o filme corre o risco de desabar, mas Eastwood leva o roteiro com firmeza até um final que, se não é muito verossímil, ao menos faz justiça ao personagem.



Trailer (atenção, o trailer revela muitas cenas do filme)

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