domingo, 22 de agosto de 2010

Topografia de um Desnudo

Assistir a "Topografia de um Desnudo" é daquelas experiências em que, como espectador e crítico, você imagina o que é que faz um filme ser bom ou não. Ou, antes, o que faz uma série de imagens em movimento se transformar (ou não) em um filme. Será que bastam apenas atores, cenários, um roteiro e uma câmera para fazer cinema?

Primeiro filme produzido com apoio do Pólo Cinematográfico de Paulínia e contando com atores como Ney Latorraca e Lima Duarte, o filme da diretora Teresa Aguiar é um desastre. Há um amadorismo assustador na forma como o roteiro é tratado e transformado em "imagens em movimento". Passado nos anos anteriores ao golpe militar de 1964 e baseado em fatos reais, "Topografia de um Desnudo" retrata como vários mendigos teriam sido mortos pelo "Serviço de Repressão à Mendicância" para "limpar" a cidade para a visita da Rainha da Inglaterra. Os crimes foram chamados pela imprensa como "operação mata-mendigos", o que causou problemas para o governo de Carlos Lacerda.

Gravado em digital, com fotografia uniforme e sem contrastes, o filme está mais para um especial de televisão pobre do que para uma obra cinematográfica. É o primeiro filme de Teresa Aguiar, premiada diretora de teatro, e a falta de experiência é aparente. Há uma mistura de gêneros que se dá logo nos créditos iniciais, contando com entrevistas reais de pessoas falando sobre a operação mata-mendigos. Qual a importância destes depoimentos? Seria para dar mais veracidade à trama? Por que não deixar o filme falar por si próprio? Segue-se uma série de sequencias gravadas de forma teatral, com a câmera um pouco afastada, enquadrando todos os atores, que declamam suas falas de forma exagerada. De vez em quando, inserts de closes dos atores são utilizados para mascarar algum corte ou dar continuidade ao plano. Os atores estão quase sempre rindo enquanto falam uns cons os outros em um tipo de linguagem que não soa em nada como um diálogo da época. Em outros momentos embaraçosos, uma câmera lenta e um acorde pesado na trilha sonora indicam que algo "sério" está para acontecer. Todas as vezes que o personagem de Ney Latorraca aparece, por exemplo, a trilha parece gritar "ai vem o vilão".

E o que dizer da cena de tortura de Lima Duarte? Preso pela polícia, que quer informações sobre uma suposta organização comunista entre os mendigos, seu personagem é torturado em uma série de planos que tentam simular o ponto de vista de uma segunda câmera, em preto e branco e com som distorcido. Quem, nos anos 60, vê o mundo desta forma, como em um programa de televisão moderno (e ruim)? Pode-se argumentar que se tentou usar uma linguagem atual para retratar uma história de época. Mas, se é este o caso, por que os trajes de época? Os carros antigos? Por que mostrar o Rio de Janeiro através de uma série de imagens de arquivo em preto e branco, acompanhadas por uma trilha clichê de samba?

O resultado, infelizmente, é um produto pobre e amador, uma tentativa frustrada e confusa de misturar teatro com cinema, televisão e documentário.


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