sábado, 30 de outubro de 2010

Federal

Impossível falar sobre "Federal" sem comparar com "Tropa de Elite". E é como comparar um episódio de uma série barata de televisão com um filme de Scorsese. "Federal" é, em vários aspectos, vergonhoso. É o primeiro longa metragem de Erik de Castro, cujo perfil no "press kit", disponível no site oficial, diz que ele estudou cinema em Los Angeles, e que o roteiro de "Federal" participou do conceituado laboratório de roteiros do Instituto Sundance.

"Federal" se passa em Brasília, terra natal do diretor, e o título se baseia tanto na capital quanto na polícia federal, cujos protagonistas do filme são membros. São todos clichês. Carlos Alberto Riccelli é Vital, delegado da Polícia Federal que luta contra o principal traficante de Brasília, Béque, interpretado pelo músico Eduardo Dussek, que está totalmente desperdiçado. Dussek, em seus shows, é irreverente, divertido, engraçado. Aqui ele é uma caricatura de um "vilão". Selton Mello (incansável e precisando escolher melhor seus projetos) é Dani, um policial jovem e "do bem", que é contra as torturas usadas pelos companheiros para conseguir informações. "A ditadura acabou", diz ele, que tem um diálogo patético com Riccelli a respeito dos "anos de chumbo". Mello e Riccelli são acompanhados pelos colegas Cesário Augusto (o policial Lua) e Christovan Neto (Rocha, o obrigatório personagem negro estereotipado).

O elenco ainda conta com a participação "especial" de Michael Madsen, ator americano que já trabalhou com Tarantino em filmes como "Cães de Aluguel" e "Kill Bill", como um policial do DEA (Drug Enforcement Administration). Madsen, com sua voz rouca, faz duas ou três cenas, contracenando com Riccelli e Dussek, e desaparece da mesma forma como surgiu, sem dizer a que veio. Praticamente todo roteiro, aliás, sofre da falta de coerência. O Dani de Selton Melo é um personagem sem família, amigos ou um passado. Ele se envolve com uma mulher "quente" em uma boate que é descrita como uma "diplomata venezuelana", Sofia (Carolina Gómez). Cenas episódicas se seguem na tela e não se vê ligação entre os personagens, sua motivação ou a consequência de suas ações. Há cenas que lembram "Tropa de Elite", como a tortura de um bandido colocando um saco de plástico em sua cabeça. Mas não há nenhuma explicação ou detalhamento sobre como funcionam as operações da Polícia Federal ou qual o processo que levou à formação de áreas pobres nos arredores de Brasília. O "vilão" de Dussek também não tem história, ele simplesmente é um cara "mau". De tantos em tantos minutos, uma cena de sexo "tórrida" acontece na tela para animar um pouco a pobreza do roteiro.

Há mais conteúdo em um dos planos finais de "Tropa de Elite 2", aquele que mostra Brasília, do que em todo filme "Federal". Sim, são filmes diferentes, propostas diferentes. Mas não é justificativa para a falta de seriedade.


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