sábado, 17 de agosto de 2013

Bling Ring: A Gangue de Hollywood

Quando a adolescente Rebecca (Katie Chang) foi presa pela polícia por ter praticado uma série de roubos em Los Angeles, tudo que ela queria saber é o que "Lindsay" havia dito a respeito. Ela se referia à atriz Lindsay Lohan, que assim como Paris Hilton, Orlando Bloom e uma série de outras celebridades de Hollywood, havia sido roubada por um grupo que ficou conhecido como "Bling Ring". Filhos de famílias de classe média alta, mimados, desocupados e fascinados pela cultura das celebridades, o grupo de adolescentes usava a internet para descobrir se algum famoso estava fora de Los Angeles, depois procurava pelo endereço deles em sites como Google Maps ou celebrityaddressaerial.com e, de forma surpreendentemente fácil, invadia a casa deles em busca de bolsas e sapados de marca, além de dinheiro e jóias. Seria uma história difícil de acreditar se não fosse baseada em fatos reais, narrados nesta reportagem da revista Vanity Fair.

A reportagem foi transformada em filme escrito e dirigido por Sofia Coppola, a talentosa filha de Francis Ford Coppola. Ela já tratou do mundo da fama antes em "Encontros e Desencontros" ("Lost in Translation", 2003) e "Um Lugar Qualquer" ("Somewhere", 2010) e, fazendo parte da "realeza" de Hollywood, conhece como ninguém este mundo de aparências. É interessante como ela intercala sequências protagonizadas pelos personagens com imagens reais de programas de celebridades e notícias que mostram a futilidade de Paris Hilton (que aparece como ela mesma em uma festa) ou os vários escândalos envolvendo Lindsay Lohan, presa por dirigir embriagada ou roubando jóias. A mistura do real com o inventado é constante durante todo o filme. Emma Watson, marcada para sempre como a Hermione dos filmes de Harry Potter, quer mostrar que cresceu e interpreta Nicki como uma "piriguete" que só usa saias dois palmos acima do joelho. As primeiras imagens da antiga atriz infantil, dançando de forma provocante em uma cena do filme, causaram sensação na internet. Coppola é muito irônica no modo como pinta a família de Nicki, composta só por garotas e guiadas por uma mãe que as educa com a filosofia das "Leis da Atração" e do "Segredo". Ela mostra fotos de Angelina Jolie e pede que as filhas descrevam o que admiram nela. "O marido", diz uma garota. "O corpão dela", diz outra.

O único homem da gangue, Marc (Israel Broussard), é um homossexual que é apaixonado por Rebecca ("Ela é como uma irmã") e passa o filme dando sugestões de moda para as outras garotas do grupo (uma delas é interpretada por Taissa Farmiga, irmã mais nova da atriz Vera Farmiga, de "Amor sem Escalas"). Cenas de Marc se confessando aparentemente para uma psicóloga acabam se revelando partes de uma entrevista que deu à Vanity Fair. Ou seja, tudo pela fama.

"Bling Ring" foi o último trabalho do grande diretor de fotografia Harris Savides (que morreu em 2012), que já havia trabalhado com Coppola em "Um Lugar Qualquer". Ele também havia trabalhado com diretores como David Fincher em "Zodíaco" e "Vidas em Jogo" e em vários filmes de Gus Van Sant, como "Milk" e "Elefante". Rodado em digital, "Bling Ring" é essencialmente noturno, mostrando as invasões da gangue às mansões de Hollywood, ou então dançando sob as luzes fortes dos clubes. Um dos roubos é visto em uma única tomada contínua que começa mostrando uma casa de longe e vai se aproximando aos poucos, em um zoom lento. O plano mostra como algumas celebridades, que tanto reclamam de terem sua privacidade invadida, moram em uma casa toda de vidro, visível para todo mundo. Interessante também ver como é baixa a segurança de lugares como a mansão de Paris Hilton, invadida diversas vezes pela gangue, que roubam apenas o suficiente para não serem notados (na vida real, a gangue roubou mais de 3 milhões de dólares em jóias e roupas). O ritmo lento pode desagradar alguns espectadores, mas "Bling Ring" é um bom trabalho de Sofia Coppola, frio e cínico.

Câmera Escura

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