sexta-feira, 16 de maio de 2014

Praia do Futuro

"Praia do Futuro" é composto por uma série de belíssimas imagens e boas interpretações, mas resultando em um todo muito menor do que as partes. É um filme de momentos. De cenas estilizadamente masculinas mostrando um grupo de bombeiros treinando na praia. Ou de cenas tocantes de dois amigos/amantes enfrentando, como dois garotos, a arrebentação do mar em uma costa rochosa. Do contraste entre paisagens escaldantes, sob o Sol nordestino, e gélidas cidades alemãs.

Dirigido por Karin Aïnouz (de "O Céu de Suely", "Viajo porque preciso, volto porque te amo"), "Praia do Futuro" é melancólico e bem intencionado, embora caminhe bela e lentamente para...lugar nenhum. Vai ficar conhecido como o "filme gay do Wagner Moura" e, de fato, há várias cenas de sexo e nudez entre Moura e o ator alemão Clemens Schick ("Cassino Royale"), mas não se deve reduzir o filme só a este aspecto. Dividido em três capítulos, é uma co-produção entre Brasil e Alemanha. Na primeira parte, chamada "O Abraço do Afogado", Wagner Moura ("Elysium", "Tropa de Elite") é Donato, um salva-vidas que trabalha na "Praia do Futuro", no litoral cearense. Durante uma tentativa de resgate, ele não consegue salvar um estrangeiro de morrer afogado. O companheiro do morto, Conrad (Schick), não perde tempo e começa um tórrido relacionamento com Donato na mesma noite em que é comunicado do afogamento. (leia mais abaixo)



A segunda parte, chamada "Um herói partido ao meio", mostra Donato e Conrad sob o frio céu de Berlim, Alemanha. É a parte mais melancólica e, francamente, parada do filme. Há vários planos bem longos que mostram Wagner Moura sofrendo, quieto e olhando para o nada, em diversas paisagens da capital alemã. Conrad quer que ele largue tudo para trás e permaneça na Alemanha, mas Donato não sabe o que fazer. Isso é mostrado em meia dúzia de diálogos (o filme é bem silencioso) e muitas imagens contemplativas, em que Moura é visto pensando na vida, ou naquele tipo de cena bem clichê em que o protagonista é visto dançando loucamente em alguma casa noturna. É necessária paciência para passar por esta segunda parte.

O que nos leva à terceira, "Um fantasma que fala alemão", que, sob muitos aspectos, se parece mais com o começo real do filme. Por volta de dez anos depois dos acontecimentos da segunda parte, o irmão de Donato, Ayrton (Jesuíta Barbosa), chega à Berlim à procura dele. Há outra bela cena, visualmente falando, em que Ayrton vê Donato trabalhando dentro de um gigantesco aquário marítimo, e os dois têm um encontro explosivo no elevador. O conflito entre os dois irmãos é o momento mais realista e honesto do filme, e talvez até explique um pouco toda a letargia anterior. O que não significa que o filme consiga se resolver até o final. O que quer Donato? O que quer "Praia do Futuro"? Não sabemos. Enquanto isso, podemos desfrutar da bela fotografia de Ali Olay Gözkaya enquanto os personagens pilotam motos, na neblina, em direção do horizonte. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

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