domingo, 18 de maio de 2014

Godzilla

O primeiro filme do monstro Godzilla foi lançado há 60 anos. O Japão havia sido devastado pela 2ª Guerra Mundial, tendo sofrido dois ataques nucleares, em 1945. Menos de dez anos depois o diretor Ishiro Honda lançou "Godzilla", que contava a história de um monstro acordado por um explosão nuclear. Ele fez tanto sucesso que gerou uma série de quase 30 filmes, inclusive uma versão americana (universalmente detestada) dirigida por Roland Emmerich ("Independence Day", "2012", "O Dia depois do Amanhã") em 1998.

Apesar do lagartão ter protagonizado alguns filmes japoneses neste novo milênio, era inevitável que Hollywood acabasse tentando novamente, o que aconteceu agora no aniversário de 60 anos do monstro. O responsável pelo filme é o diretor britânico Gareth Edwards, um garoto prodígio dos efeitos especiais que fez um longa metragem (chamado "Monstros"...claro) em 2010 em que foi diretor, produtor, roteirista e responsável pelos efeitos visuais. O novo "Godzilla", sem mais delongas, é uma decepção. Uma brilhante campanha publicitária criou trailers cheios de suspense em que pouca coisa era revelada; alguns usaram até a música do romeno Gyorgy Ligeti (usada em "2001 - Uma Odisseia no Espaço") e a narração de J. Robert Oppenheimer (o criador da Bomba Atômica) para da um ar mais "sério" ao filme. Pouco se via do próprio Godzilla ou detalhes do roteiro.

(Atenção, o texto abaixo contém SPOILERS sobre o filme. Caso não queira saber detalhes, leia somente depois de vê-lo)


O filme que chega aos cinemas, no entanto, está longe das boas sacadas da campanha publicitária. A começar pelo fato de que Bryan Cranston (famoso pela série "Breaking Bad", mas que também esteve em bons filmes como "Drive" e "Argo") não só não é o protagonista como "desaparece" rapidamente, deixando o filme nas costas de Aaron Taylor-Johnson (de "Anna Karenina"). O vazio deixado pela morte precoce de Cranston é enorme e o filme cai nos clichês de sempre. Johnson é um soldado americano que precisa "voltar para a família" e, convenientemente, é um especialista em bombas, o que já deixa implícito como é que o filme vai terminar. Dois monstros chamados  de "Muto" causam destruição por onde passam e o exército quer tentar matá-los usando bombas nucleares, mesmo tendo sido alertados pelo personagem interpretado pelo japonês Ken Watanabe de que eles se alimentam de radiação. Ele tenta também convencer os americanos de que o melhor é deixar a "Natureza encontrar seu equilíbrio" na forma de Godzilla, um lagarto de centenas de metros de altura que, neste filme, não é o vilão que fomos levados a acreditar. Além disso, o diretor fica brincando de esconde-esconde com Godzilla e os monstros e, estranhamente, deixa de mostrar quase todos os confrontos entre eles, preferindo cortar para os personagens humanos, ainda mais superficiais que os bichões digitais, ou para reportagens na TV. Se a proposta ao menos fosse como a do (tremendamente superior) "Cloverfield", produzido por J.J. Abrams, em que o monstro era visto propositalmente apenas de relance, ainda daria para entender. Do modo como foi feito por Edwards, a opção não faz sentido. E como explicar que a explosão de uma bomba nuclear na baía de São Francisco não cause a morte de toda a cidade?

Bons atores como David Strathairn, Ken Watanabe, Sally Hawkins (de "Blue Jasmine") e Juliette Binoche estão desperdiçados em personagens patéticos ou clichês, e Aaron Taylor-Johnson (que mantém a mesma expressão facial o filme todo) simplesmente não tem carisma para segurar a trama sozinho. O filme (ruim) de 1998, ao menos, sabia se divertir com as próprias falhas.

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