quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Não Amarás

Não Amarás” (1988) era originalmente parte da épica minissérie de TV “O Decálogo”, do diretor polonês Krzysztof Kieslowski (da série “Trilogia das Cores”, já vista neste blog). A série consistia em dez filmes baseados levemente nos “Dez Mandamentos” das religiões judaico/cristãs. Dois destes filmes (este e “Não Matarás”) foram lançados como filmes de cinema em versões estendida.

“Não Amarás” trata da história de um adolescente tímido e reprimido de 19 anos chamado Tomek (Olaf Lubaszenko). Ele trabalha no posto de correios durante o dia e vive com uma senhora em um conjunto de prédios. Toda noite, por volta das 20h30, Tomek entra em seu quarto e passa a observar atentamente, através de uma luneta, o prédio de frente ao seu. É lá que vive Magda (Grazyna Szapolowska), uma mulher madura e independente por quem Tomek está apaixonado. De seu posto, em cenas que lembram muito o clássico de Alfred Hitchcock, “Janela Indiscreta” (Rear Window, 1954), Tomek fica observando Magda chegar do trabalho, sair do banho, jantar e, invariavelmente, se envolver com homens. Tomek não é apenas um observador passivo. De vez em quando ele interfere no que ele vê do outro lado da luneta. Em uma das vezes que Magda está com um namorado, por exemplo, Tomek liga para a companhia de gás de diz ter um vazamento no apartamento, mas passa o endereço de Magda. Aos poucos, ele vai encontrando maneiras de se aproximar mais dela, deixando falsas ordens de pagamento na caixa postal dela, forçando-a a ir ao posto do correio em que ele trabalha, ou entregando leite no apartamento dela todas as manhãs.

Uma noite ele a vê sozinha e chorando, após uma briga com o namorado. Ele finalmente se aproxima e se declara a ela, que a princípio fica brava com a invasão de privacidade e procura se vingar. Mas, aos poucos, ela acaba gostando da atenção e os dois finalmente saem juntos. É então que o amor platônico de Tomek precisa enfrentar a realidade do amor físico praticado por Magda. A primeira noite termina de forma trágica, e a partir deste momento o filme inverte o foco, passando a seguir a história do ponto de vista de Magda, que passa a tentar acompanhar a vida de Tomek do outro lado da janela.

O estilo de Kieslowski é lento e intimista, auxiliado por seus habituais colaboradores, o músico Zbigniew Preisner e o co-roteirista Krzysztof Piesiewicz. Ele é mestre em criar ambientes com pouca luz e muitas sombras, revelando o estado das personagens. “Não Amarás” chega a ser quase um filme mudo, em seus poucos diálogos. Há muita culpa cristã no modo como Tomek pensa amar Magda que, de seu lado, considera o ato apenas como algo físico. Mas o contato com Tomek e sua atenção acabam por comovê-la e a encarar a própria vida de outro modo. Há uma cena particularmente bonita, quando Magda, do ponto de vista de Tomek, observa seu apartamento lá longe e fantasia como Tomek a veria. O final é aberto, mas tocante.

Um comentário:

Bianca Pissardo disse...

gostei do título do filme.
já coloquei na listinha pra assistir.

=)