domingo, 26 de julho de 2009

Inimigos Públicos

De um lado, a Hollywood clássica e o filme de gângster. Anos 30, bandidos com nomes inventivos como "Baby Face" Nelson e "Pretty Boy" Floyd, metralhadoras Thompson, casacos longos, chapéus de feltro. Do outro, um dos diretores mais modernos do cinema atual, Michael Mann, com seu visual perfeccionista e suas experimentações com o cinema digital. O resultado: "Inimigos Públicos", um filme de gângster do século XXI. Mann é um mestre da imagem. Seu estilo é ao mesmo tempo épico e intimista. Ele gosta da câmera bem próxima do rosto dos personagens, como que tentando nos mostrar o que se passa dento da cabeça deles. Ao mesmo tempo, sua tela larga e imagem perfeita criam um mundo próprio. Desde algumas experimentações em "Ali" (sua falha biografia do boxeador mais famoso de todos os tempos) e em "Colateral" Mann têm usado as câmeras digitais Vyper e Sony CineAlta para substituir a tradicional película de 35 mm usada desde sempre no cinema. Se elas funcionavam bem em filmes modernos como "Miami Vice", com seu visual noturno e "sujo", sua utilização em um filme de estilo clássico como "Inimigos Públicos" poderia ser arriscada. Nas mãos de Mann e seu diretor de fotografia Dante Spinotti, no entanto, o resultado é surpreendente: temos um filme clássico que é, ao mesmo tempo, moderno até a medula.

Johnny Depp interpreta John Dillinger, um criminoso que, perguntado o que faz da vida, simplesmente responde: "Sou ladrão de bancos". Dillinger era uma espécie de "pop star" nos anos 30. Fã de cinema e de Clark Gable, vivia apenas para o dia de hoje e realizava seus roubos a banco com rapidez, nunca roubando o cliente comum. Mann e Depp, no entanto, não tentam glamourizar demais o personagem. Ele era cruel com seus inimigos e não tinha respeito algum pela lei. Apaixonou-se por uma garota chamada Billie Frechette (a francesa Marion Cotillard), o que acabou sendo seu ponto fraco. Seu inimigo declarado era Melvin Purvis (Christian Bale), um homem da lei que foi transformado em agente especial pelo diretor do FBI, o afetado John Edgar Hoover (interpretado muito bem por Billy Crudup). Hoover sonhava com uma agência anti-crime composta por homens com "treinamento científico", com técnicas que, nesses dias de CSI e exames de DNA, podem parecer risíveis, mas eram as mais avançadas da época. Purvis já havia matado pessoalmente "Pretty Boy" Floyd e "Baby Face" Nelson e Dillinger se tornou sua obsessão. Ele é interpretado por Christian Bale, que já foi um grande ator, mas ultimamente parece ter estacionado em um mesmo tipo de atuação. Saudade de seus tempos de filmes pequenos. Depp, em contrapartida, está cada vez melhor com seu estilo camaleônico.

Michael Mann é meticuloso na construção de certas sequências, como a que mostra Dillinger fugindo de uma delegacia, atravessando uma a uma as barreiras do lugar, metódica e precisamente. O frenezi da mídia a respeito de Dillinger é mostrado em uma sequência visualmente fantástica, em que o criminoso é trazido de avião, à noite, e iluminado por fogos pelos cinegrafistas da época, tão insistentes quanto os paparazzi modernos. O final é metalinguístico. Dillinger passa seus últimos momentos em uma sala de cinema, assistindo a Clark Gable. Depp observa Gable e, novamente, o moderno dialoga com o clássico. E o cinema continua.


3 comentários:

Bianca Pissardo disse...

tenho 2 coisas a dizer:
nao vou ler seu texto pq senao ele vai entregar o filme e a segunda coisa é:
johnny deep é meu amor platonico definitivamente!!

hahaha

João Solimeo disse...

Oláaa....

Bom, veja o filme que você resolve as duas coisas, pode ler meu texto e Johnny Depp vai continuar platônico!
bjo

Bianca Pissardo disse...

nao achei o filme grandes coisas, mas o johnny é um arraso, indiscutivelmente.