segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Stella

"Stella" é um dos filmes mais femininos (e, ao mesmo tempo, universais) exibidos nos cinemas nos últimos anos. Escrito e dirigido por Sylvie Verheyde, é contado em primeira pessoa por Stella (Leora Barbara), uma menina de apenas 11 anos que vive com os pais em um bar de uma Paris que não é aquela que imaginamos, linda e com a Torre Eiffel. Esta é uma cidade real, com pessoas reais, enfrentando os problemas do dia a dia. Que problemas uma garota de 11 anos pode ter? Muitos.

O filme começa com Stella sendo admitida em uma escola "de ricos". Logo no primeiro dia, ela volta para casa com um olho roxo adquirido em uma briga com um garoto. Seus pais, Roselyne e Serge (Karole Rocher e Benjamin Biolay), não são más pessoas, mas têm pouco estudo, trabalham muito e não sabem como cuidar de uma criança. Stella ajuda a atender o balcão e pode assistir TV até tarde e conversar com os frequentadores do lugar (segundo a garota, todos vão morrer de cirrose, o que ajuda a renovar a clientela). Ela tem uma paixão platônica por Alain Bernard (Guillaume Depardieu, que morreu ano passado, filho de Gerárd Depardieu), um dos clientes que moram em um quarto alugado no mesmo prédio.

Na escola, Stella não consegue se enturmar com as outras crianças, todas mais avançadas intelectualmente e financeiramente. Um dia, porém, uma garota chamada Gladys (Melissa Rodrigues) conversa com ela e as duas engatam uma daquelas amizades que só são possíveis nessa idade, honesta e livre de interesses. Gladys é filha de um psiquiatra argentino e mora em um belo apartamento na cidade e, de vez em quando, Stella passa a noite com ela. A amizade acaba fazendo bem também aos estudos de Stella, embora não da forma rápida que aconteceria em um filme menos realista. A influência da educação de Gladys se faz sentir aos poucos, como quando Stella vai à uma livraria comprar um livro de Balzac. A leitura, ao menos no início, não impede que ela seja vítima constante daqueles professores mal amados que se encontram nas escolas mundo afora, que descontam suas insatisfações nas crianças. Mas o filme mostra como as boas amizades e bons exemplos são fundamentais para instigar a educação de uma criança. Os pais de Stella, principalmente a mãe, só sabem educar agredindo verbalmente e a colocando para baixo. Aos poucos, porém, a menina vai percebendo que a escola nova pode ser um caminho para fora do bar e para um futuro melhor.

A diretora/roteirista leva o filme com uma sensibilidade invejável. A interpretação das meninas é totalmente verdadeira, e nos identificamos de imediato. O filme é passado em uma época que, no início, não é muito fácil de identificar. Aos poucos, porém, certos indícios como roupas, discos de vinil e fotos de Alain Delon nos colocam entre os anos 60 e 70. A data exata (1977) só aparece em uma cena em que Stella se dá bem em uma tarefa na escola, falando sobre um quadro.

Não é um filme infantil (a indicação etária é de 14 anos), mas extremamente realista sobre como é, na verdade, a passagem da infância para a pré-adolescência. Para uma mulher ainda há o peso extra das mudanças mais rápidas no corpo, a primeira menstruação e a passagem das bonecas para outros interesses. Um filme com produção modesta, mas raro na beleza e sensibilidade.


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