sábado, 25 de setembro de 2010

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme

Há um pouco de Gordon Gekko, o ambicioso jogador da bolsa de valores interpretado por Michael Douglas, no diretor Oliver Stone. Roteirista de sucesso nos anos 80, Stone se lançou para a fama cinematográfica dirigindo filmes polêmicos que trataram de biografias de presidentes americanos (como Nixon, JFK ou George W. Bush), a Guerra do Vietnã (Platoon, Nascido em Quatro de Julho, Entre o Céu e a Terra), violência e a mídia (Assassinos por Natureza) ou a ganância da bolsa de valores (Wall Street). Exagerado, ambicioso, manipulador, Stone passou por maus bocados nos últimos anos, investindo em grandes fracassos como "Alexandre" ou filmes por encomenda como "As Torres Gêmeas". Polêmico, também se tornou documentarista e se aproximou de figuras como Fidel Castro, em Cuba, e Hugo Chávez, na Venezuela.

Na cena que abre "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme", continuação de seu filme de 1987, Gordon Gekko está sendo libertado da prisão depois de cumprir pena por diversos crimes financeiros. Ele tem pouco dinheiro, um celular que pesa quase um quilo e, fora das grades, ninguém para buscá-lo. Um pouco do Stone polêmico dos anos 80 também volta com Gekko. Paradoxalmente, o estilo um dia inovador de Stone, aos olhos do espectador do século XXI, parece extremamente "clássico", com belas tomadas de Nova York, capital do mundo, créditos no início do filme, música de David Byrne e Brian Eno e um elenco impressionante. De sólidos novos astros como Shia LaBeouf, a carismática Carey Mulligan e Josh Brolin a veteranos como Eli Wallach (no alto de seus incríveis 95 anos), Frank Langella, Austin Pendleton, Susan Sarandon e, claro, Michael Douglas, é um grupo de dar inveja.

Stone explora os atrativos e fraquezas do sistema capitalista em seu palco principal, o mercado de Wall Street. LaBeouf é Jake Moore, um garoto prodígio que, na casa dos vinte e poucos anos, mora em um apartamento caro em Manhatan e acaba de receber um bônus de US$ 1,4 milhões. Apesar da aparente prosperidade, no entanto, o mercado está para estourar em uma das maiores crises financeiras desde a queda da Bolsa de Nova York em 1929. Stone é meticuloso em mostrar como os "tubarões" do mercado exploram o sistema para derrubar competidores e sair lucrando no processo. É o caso de Bretton James (Josh Brolin), que liquida a empresa pertencente a Louis Zabel (Langella), mentor e segundo pai do personagem de LaBeouf. Desolado, Zabel se suicida no metrô de Nova York assim que perde sua empresa. LaBeouf promete se vingar de Bretton, mas ele o faz da maneira capitalista de ser, sendo contratado pelo próprio Bretton. Já Carey Mulligan (de "Educação" e "Em busca de uma nova chance") é Winnie Gekko, filha de Gordon, uma jornalista que mantém um pequeno site independente de notícias. Ela se recusa a perdoar o pai e não quer nada do seu dinheiro, apesar de estar noiva de Moore (LaBeouf), membro de Wall Street, e morar em um apartamento rico em Nova York.

Douglas e LaBeouf repetem, de certa forma, a dupla veterano/novato representada no Wall Street original, em 1987, por Douglas e Charlie Sheen (que faz uma ponta no novo filme). Escondidos de Winnie, os dois começam a trocar informações do mercado (que interessam Moore) por oportunidades de reconciliar pai e filha (que interessam Gekko). Michael Douglas ganhou um Oscar por sua performance no filme original e, paradoxalmente, acabou se tornando uma espécie de modelo para a geração dos anos 80. "Greed is good" (a ganância é boa), dizia Gordon Gekko. Neste filme suas motivações são mais cinzas e difíceis de decifrar. Teria ele se tornado um "homem bom" que só quer voltar a ver a filha? Teriam seus anos de prisão lhe ensinado alguma coisa? O filme é um pouco indeciso quanto a estas questões. O personagem de LaBeouf, principalmente, precisaria de um desenvolvimento melhor. Ele é claramente esperto e conhecedor do mercado o suficiente para estar na posição em que se encontra. Em outros momentos, no entanto, é ingênuo demais. Há também uma mensagem ecológica colocada na trama que, perigosamente, parece justificar os esquemas e lavagens de dinheiro realizados por Gekko e Moore.

Mesmo com estes problemas, é um filme extemamente interessante de assistir e muito bem realizado. Stone mostra como o governo americano foi em socorro das empresas que estavam para falir com um "auxílio" de 700 bilhões de dólares. Chega a ser engraçado o modo como todos, ao redor da mesa do Federal Reserve, discutem cifras de bilhões de dólares como se não fossem nada.

Fato extra filme, é digno de nota que o ator Michael Douglas, logo no início da campanha de promoção para "Wall Street", tenha sido diagnosticado com um câncer na laringe. Em aparição no programa David Letterman, Douglas revelou a doença e, calmo mas bastante preocupado, disse que é grave e que entraria em tratamento. Saber disso nos faz ver sua interpretação de forma diferente (talvez uma despedida?) e, talvez, tornem Gekko mais humano.


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