sábado, 11 de setembro de 2010

A Ressaca

Os anos 80 foram a década dos excessos. Os Estados Unidos estavam para se tornar a única superpotência do mundo, Ronald Reagan estava na Casa Branca, Wall Street ditava moda e o dinheiro era o rei. No cinema, os filmes para adolescentes reinavam absolutos, das comédias bem feitas de John Hughes e produções caprichadas de Steven Spielberg a bobagens de baixo nível como Porky´s e similares. Pena que o filme "A Ressaca", ao tentar prestar homenagem à década de 80, foi se basear justamente nesse lado baixo nível.

A trama é básica (e absurda). Um trio de velhos amigos, Adam (John Cusack, também produtor do filme), Lou (Rob Corddry) e Nick (Craig Robbinson) resolvem voltar à estação de esqui onde passaram a melhor época de suas vidas. O objetivo é tentar reanimar Lou, que foi internado no hospital sob suspeita de tentativa de suicídio (na verdade, ele apenas havia sido burro o suficiente para ficar cantando rock com o motor ligado dentro de uma garagem fechada). Os três eram melhores amigos quando adolescentes nos anos 80, mas o tempo e as obrigações fizeram deles "fracassados". Eles são acompanhados pelo sobrinho nerd de Adam, Jacob (Clark Duke), que está no filme para que a parte jovem da platéia se identifique com ele. Os três "adultos" são os típicos americanos "machos", interessados em bebidas, mulheres e outros "machos". Ao chegarem à estação de esqui, eles descobrem que o lugar está decadente e se tornou uma sombra do que era vinte anos atrás. De qualquer forma, eles resolvem confraternizar na banheira ao ar livre do hotel que, magicamente, os transporta para o passado, precisamente para o ano de 1986, quando a banda Poison estava tocando em um festival de rock na cidade.

O filme é até bem intencionado e tem várias referências e homenagens aos anos 80. O comediante Chevy Chase, por exemplo, grande figura da época, faz uma ponta como o zelador do hotel. Há também referências à MTV, aos primeiros celulares gigantes e até mesmo uma piada com "De Volta para o Futuro" na figura de Crispin Glover, o carregador de malas do hotel, que interpretava o pai de Marty McFly no clássico produzido por Spielberg em 1985. Mas o filme é voltado para o mau gosto do americano médio, com várias piadas baixas e cenas envolvendo vômito, dejetos em geral e mulheres com os seios de fora. O hotel onde eles se hospedam é tão obviamente um cenário que é vergonhoso. A questão dos paradoxos no tempo, explorados em filmes como "De Volta para o Futuro" e "O Exterminador do Futuro" também são citados aqui, mas o roteiro não se preocupa muito em ser consistente. Cada um dos amigos deveria, teoricamente, repetir exatamente o que fizeram em 1986 para que a História não seja alterada. John Cusack se lembra de ter terminado com a namorada naquela noite (e de levar um garfo no olho em troca). Lou levou uma surra de um grupo e Nick, que era o cantor de uma banda medíocre, iria se apresentar. As coisas não acontecem exatamente desta forma e o roteiro perde a chance de ser um pouco melhor explorando uma moça que se interessa por Cusack. Ela claramente está fora de lugar e, por um momento, o espectador imagina se ela também não está viajando no tempo. Mas a preguiça do roteiro não explora a situação. O filme é dirigido por Steve Pink, que foi co-roteirista do ótimo filme "Alta Fidelidade", também com John Cusack. É verdade que Pink não deve ter tido muito trabalho ao lidar com o ótimo livro original de Nick Hornby, pois nada da classe daquele filme está neste.

Por fim, também está de volta aquela coisa bem oitentista de que felicidade equivale a bens materiais. Assim, "A Ressaca" termina mostrando que felicidade é ter um barco gigante, uma esposa peituda e burra e um filho alienado. Filme para ser visto em DVD, no máximo, ou baixado da internet.


2 comentários:

Fabianna Freire Pepeu disse...

Só pra registrar que eu simplesmente adoro o modo como você escreve e (mais importante?) o que tem sempre a dizer. Um abraço, Fabianna

João Solimeo disse...

Obrigado pelo comentário. Continue visitando. Abs.