
"Também a Chuva", dirigido por Icíar Bollaín, é metalinguístico, quando um filme fala sobre a feitura de outro. O recurso é interessante e serve para mostrar os bastidores do cinema, mas este traz uma particularidade: além do recurso do filme dentro do filme, "Também a Chuva" serve para mostrar sensível paralelo entre a exploração dos conquistadores espanhóis do século 16 e dos cineastas espanhóis do século XX. Os figurantes locais, por exemplo, são contratados por míseros dois dólares por dia, enquanto a equipe européia toma champanhe e se hospeda em hotéis caros. Há cenas muito inteligentes; quando o ator que interpreta Colombo (Karra Elejalde) está ensaiando uma cena no jardim do hotel, por exemplo, ele se aproxima de uma empregada local (com rosto indígena) e retira o brinco dela, dizendo "Ouro! Onde encontrou isso?". Por um momento, o espectador fica sem saber onde termina o filme histórico e começa o filme contemporâneo. A confusão, proposital, continua por toda a produção e é interessante como várias cenas do passado da América são ecoadas no presente.
Além disso, a trama se passa durante a chamada "guerra da água" ocorrida na Bolívia no ano 2000. O governo fez um acordo com a companhia americana Bechtel Corporation, privatizando toda a água da região. A empresa fez melhorias, mas a população local não tinha como pagar os serviços, que sofreram um aumento de 300%. Era considerado ilegal abrir um poço ou até mesmo coletar a água da chuva. Daniel é um dos líderes do movimento de resistência contra a privatização da água, o que causa preocupação aos produtores. Eles até tentam suborná-lo, oferecendo 10 mil dólares para ele deixar de participar das manifestações que estão pipocando pela cidade. Seu personagem, um índio chamado Hatuey, é muito importante para que ele coloque o filme em risco. Conforme o tempo passa, o idealista diretor Sebastián e o ganancioso produtor Costa vão trocando de papel. Costa começa a perceber os problemas locais enquanto Sebastián só está preocupado com seu filme.
"Também a Chuva" foi o filme escolhido pela Espanha para tentar uma vaga ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011. É uma bela produção muito bem escrita por Paul Laverty, e mostra como quinhentos anos de colonização não mudaram muita coisa.
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