quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Holy Motors

Um homem acorda em um quarto estranho. Vai até uma parede e a empurra, abrindo uma passagem secreta que  vai dar em um cinema cheio. Logo em seguida, uma série de histórias desconexas começam a acontecer. Um personagem, o Sr. Oscar, interpreta vários tipos diferentes ao ser levado de um "compromisso" a outro em uma enorme limousine branca. "Holy Motors" não é um filme de digestão fácil, embora sua mensagem seja bem menos enigmática ou misteriosa quanto o que o roteirista/diretor, Leos Carax, aparentemente pretendia.

A metáfora, na verdade, é até bem simples (e mesmo um pouco batida). A vida é um palco (ou um filme), e o Sr. Oscar e os companheiros com quem encontra na viagem somos todos nós, vivendo dia após dia, representando diversos papéis. Alguns são papéis "comuns" (mas difíceis) como o de pai, marido. Outros são mais cinematográficos, como um assassino profissional que (em outra viagem de Carax) mata um homem apenas para transformá-lo em uma cópia dele mesmo. Há momentos ainda mais bizarros, como o personagem de um "maluco" (já usado por Carax em outras produções) que sai do esgoto em pleno cemitério de Paris (onde nas tumbas pode-se ler "visite meu website") e começa a comer as flores e atacar as pessoas. Ele finalmente invade uma sessão fotográfica, sequestra a modelo (Eva Mendes) e transforma seu parco vestido em uma burca improvisada. A cantora australiana Kylie Minogue interpreta uma "companheira de profissão" do Sr. Oscar que, em uma paródia aos musicais americanos, conversa com ele cantando. Há uma sequência fantástica em que o Sr. Oscar veste uma daquelas roupas pontilhadas usadas por atores em filmes de computação gráfica; ele e uma companheira interpretam uma cena de sexo virtual que, em outra tela, pode ser vista finalizada.

É um filme incomum e, a bem da verdade, é necessário estar com o espírito preparado para apreciá-lo. Percebe-se grande influência dos filmes de David Lynch. Há ótimos momentos isolados (como uma sequência musical interpretada por um grupo de sanfoneiros, veja clicando aqui) entrecortados  por sequências feitas aparentemente apenas para chocar ou, o que é pior, terem algum significado "artístico" ou "intelectual". O título (também incomum) encontra explicação nas cenas finais, quando várias limousines iguais são vistas entrando em um prédio enorme. "Holy Motors" vale por algumas cenas específicas e pelo seu modo anárquico mas, repetindo, não é para todos os gostos. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

Nenhum comentário: