quarta-feira, 27 de março de 2013

Guerra dos Mundos, o livro e as diferentes versões

Capa da edição original. fonte: Wikipedia

"The War of the Worlds" (Guerra dos Mundos) é um livro de ficção científica escrito por H.G. Wells em 1898 na Inglaterra. Já havia visto duas adaptações cinematográficas, a ótima de 1953 dirigida por Byron Haskins e produzida por George Pal e a versão que Steven Spielberg fez em 2005 com Tom Cruise, mas nunca havia lido o livro, até agora.  Foi uma experiência muito interessante por dois motivos; um pelo conteúdo, outro pelo meio pelo qual li; foi meu primeiro ebook, lido metade em um e-reader para Windows Phone chamado "Freda" e a segunda metade li do em um "Kobo Glo", o e-reader canadense que a Livraria Cultura trouxe ao Brasil.

O livro é muito interessante, ainda mais quando se pensa na data em que foi escrito. Leva um tempo, com todas aquelas imagens de filmes de ficção-científica americanos dos anos 50 na cabeça, com seus soldados, jipes, tanques de guerra etc, para embarcar no planeta Terra do final do século 19. Quando Wells descreve soldados chegando, temos que imaginá-los vindo a cavalo, pilotando charretes ou puxando grandes canhões. Da mesma forma, a cidade de Londres, descrita por Wells como tendo 6 milhões de habitantes, deve ser imaginada no século 19, sem carros nas ruas etc. A diferença de tecnologia entre os invasores Marcianos e o povo da Terra fica ainda maior quando imaginamos as armas e artefatos humanos há mais de 100 anos. 

"Guerra dos Mundos", filme de 1953
A trama é narrada em primeira pessoa por um escritor que nunca é nomeado e que, por coincidência, sorte ou vontade do autor, é testemunha da maior parte dos eventos desde a descoberta de "jatos de gás" saindo da superfície do planeta Marte (que se encontra na aproximação máxima da Terra) até a queda de "cilindros" nos arredores de Londres, Inglaterra, de onde saem os Marcianos. A descrição das criaturas, a meu ver, não é muito boa, ficando difícil visualizá-los. Wells os descreve como "grandes cabeças, com olhos enormes, uma boca em forma de V e tentáculos". Estas criaturas estranhas se tornam poderosas ao construírem "Tripods" gigantes que andam pela paisagem inglesa destruindo tudo com "raios de calor" e uma fumaça tóxica que mata quem a respira. A versão de Spielberg, apesar de passada na época contemporânea, também equipa os Marcianos com estes veículos, enquanto que na versão dos anos 50 eles usavam naves flutuantes, uma espécie de discos voadores.

A narração de Wells é bem interessante e o leitor vai reconhecer vários dos "clichês" de filmes de invasão por extraterrestres feitos em Hollywood no próximo século. A lentidão e tranquilidade com que se narra a queda do primeiro cilindro, a curiosidade causada nas pessoas, que vão se aproximando; o cilindro que se abre lentamente, revelando as criaturas que saem de dentro até que o cenário aparentemente pacífico se transforma em um campo de batalha. Os Marcianos de Wells usam um "Raio de Calor" para explodir ou queimar imediatamente pessoas, casas, peças de artilharia, etc. Quando um dos marcianos é derrubado por um canhão, eles passam a usar uma "Fumaça Negra" que, como um líquido, vai se espalhando pelas ruas das cidades e matando a todos por envenenamento. Vale lembrar novamente que estamos em uma época pré Primeira Guerra Mundial, mas algumas das descrições de Londres destruída pelos Marcianos lembram cenas que aconteceriam só meio século depois, quando os nazistas bombardearam a cidade na II Guerra Mundial.

A versão de 2005, de Steven Spielberg
O livro é dividido em duas partes, "A chegada dos Marcianos" e "A Terra sob os Marcianos". Há muito poucos diálogos entre os personagens, sendo que quase toda a trama é narrada pelo escritor segundo os fatos que ele "testemunhou" ou escutou de outras pessoas, como um irmão que mora em Londres. O narrador (e as multidões inglesas) estão em constante movimento, fugindo dos invasores, mas há dois momentos de pausa; um quando o narrador, na companhia de um pároco, fica 15 dias preso em uma casa cercada de Marcianos, quando ele testemunha, horrorizado, que eles se alimentam de sangue humano. A outra pausa é quando ele encontra um soldado que tem planos mirabolantes de comandar a "resistência" dos seres humanos contra os invasores. O militar tem um longo monólogo em que descreve a apatia humana e sobre como muitos seriam "cultivados" pelos Marcianos e usados como comida ou mesmo como bichos de estimação. Wells traça paralelos interessantes entre a superioridade marciana e nós e a relação de poder que existe na Terra entre humanos e animais. Há também uma relação entre a alegoria de Wells e temas como Darwinismo e Colonialismo.

Por fim (SPOILERS?), os Marcianos, aparentemente indestrutíveis, são vítimas das bactérias terrestres, para as quais não são imunes, e acabam morrendo depois de terem destruído grande parte de Londres e, aparentemente, vários outros locais do globo. Vale também lembrar a versão para rádio produzida por ninguém menos que Orson Welles (que tem o nome parecido com o do autor) em 1938, já um garoto prodígio do Teatro e que em breve dirigiria "Cidadão Kane" (1941). A versão de Welles, narrada como se fosse um jornal ao vivo, causou pânico em diversas regiões dos Estados Unidos, pois o público acreditou se tratar de uma invasão real.

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