quarta-feira, 12 de março de 2008

RAMBO?


Pois é, em que ano estamos mesmo? Deixe-me ver...é, já estamos em 2008, século XXI. Mas eu vou à locadora e vejo um filme novo da série "Duro de Matar". Outro dia mesmo Rocky Balboa estava nos cinemas. Indiana Jones (e a Busca pela Fonte da Juventude?) chega em maio (se não morrer no caminho)...em que ano estamos mesmo? É a volta dos anos 80! Mas peraí...eu passei pelos anos 80...o que significa que já estou com...deixa pra lá.

Confesso, assisti várias vezes ao Rambo ("programado para matar") e sua espetacular continuação ("A Missão") durante os anos 80, nos bons, velhos e surrados VHS. Rambo III (a ajuda ao Talibã perdido) já vi nos cinemas, sentado no chão do velho Cine Windsor, saudoso, no centro de Campinas. Nos tempos que Campinas só tinha um shopping (o Iguatemi) e duas salas de shopping, os "Serrador" I e II. Se eu gostava de Rambo? Claro que sim! O cara era macho, não ligava para nada nem ninguém e, quando ficava bravo, descarregava sua raiva com rajadas intermináveis de metralhadora, ou tiros certeiros de arco. Os vilões eram os saudosos vilões dos anos da Guerra Fria, vilões "de verdade", repulsivos, ignorantes, os "amarelos" vietcongs que Rambo destroçava na floresta, vencendo sozinho a guerra que custou a vida de 50 mil americanos (e 2 milhões de vietnamitas) nas décadas de 60 e 70.

Mas o tempo passa. A Guerra Fria terminou (sendo substituída por dezenas de guerras "quentes") e os heróis do cinema se tornaram mais existencialistas e filosóficos, como o NEO de "Matrix" que, mesmo em meio a rajadas de metralhadora, ainda tinha tempo de meditar sobre o sentido da vida. Mas eis que ressurge das cinzas Rambo, estimulado pelo retorno do seu meio-irmão Rocky Balboa que, confesso, foi um filme surpreendentemente bom. O pai dos dois, Sylvester Stallone, resolveu colocar a aposentadoria de lado e ganhar alguns trocados.

O que dizer de Rambo IV? Em uma palavra? Lixo. Em duas? Muito lixo. Mas não é tão simples. O retorno de Rambo sinaliza outras coisas no ar. Ícone da Guerra Fria e dos anos de Ronald Reagan, Rambo provavelmente se sentiu à vontade para voltar inspirado em George W. Bush, o "war president". E enquanto Rocky voltou tranqüilo, bem de vida mas saudoso da esposa e da fama da juventude, Rambo voltou simplesmente para fazer o que ele sabe fazer melhor: matar. O "roteiro" não passa de uma simples sinopse: grupo de missionários em missão de paz na Birmânia é seqüestrado pelo sanguinário exército local e Rambo, acompanhado por mercenários, vai resgatá-los. E é isso. O filme é tão vazio quanto curto...há quase dez minutos de créditos finais para cumprir os 90 minutos necessários para classificar Rambo como um longa metragem.

Confesso que achei que Stallone tentaria redimir o personagem, que neste filme acreditaria que nem tudo na vida se resolve na porrada, mas é exatamente o contrário. Rambo não mata apenas alguém. Ele decepa braços, cabeças, entranhas...tudo mostrado graficamente na tela como nunca antes. Há quem diga que o filme é "realista" por esta exibição de carne, mas o filme está mais para um filme "B" de terror na quantidade de sangue esguichando e membros saltando. Pode-se dizer que, talvez, Stallone tenha querido se manter "fiel" ao personagem, mas o que conseguiu foi mostrar uma suposta pessoa que não mudou absolutamente nada em 30 anos de "vida cinematográfica". E o filme nem pode ser desfrutado como uma boa aventura escapista, como nos filmes originais. É desprovido de interesse, curto e vazio como o cérebro do seu personagem.

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