terça-feira, 23 de junho de 2009

Sinédoque, Nova York

Um diretor de teatro. Um ator que interpreta este diretor. Uma esposa. Não, duas esposas. Duas filhas pequenas, quase idênticas. Uma psicóloga que parece estar exatamente no lugar certo o tempo todo. Uma casa permanentemente em chamas, mas ninguém parece notar. Nova York. Um cenário de Nova York, dentro de Nova York. E assim por diante. Sinédoque, me informa o dicionário, é "tomar a parte pelo todo". Cinco cabeças de gado. "Cabeça" no lugar de boi. O que nos leva a "Sinédoque, Nova York", filme de estréia na direção do roteirista Charlie Kauffmann. Ele é o responsável pelos roteiros menos convencionais feitos pelo cinema americano nos últimos anos. Suas histórias têm algumas características em comum, como a metalinguagem, os personagens masculinos geniais mas confusos, a presença do fantástico no dia a dia e assim por diante. Ele escreveu filmes como "Quero ser John Malkovich", "Adaptação", "Confissões de uma mente perigosa" e "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças".

Ele chega agora à direção em um filme (escrito por ele, naturalmente) que carrega todas estas características e as leva ao extremo absoluto. Por um lado, parece genial. Por outro, ao chegar ao final da longa sessão de cinema (são 124 minutos que, francamente, parecem mais) fica difícil chegar à uma conclusão sobre o filme. Resumo rápido: Um diretor de teatro hipocondríaco que ganha um prêmio em dinheiro resolve fazer uma peça que embarque toda a sua vida e o mundo à sua volta. Ele contrata um ator não só para interpretá-lo, mas para segui-lo 24 horas por dia e saber todos os detalhes de sua vida. Há também atrizes que substituem sua segunda mulher, Claire (Michelle Williams) e sua assistente, Hazel (Samantha Morton). Dentro de um galpão enorme em Nova York, aos poucos ele vai recriando seu apartamento, os prédios em volta, finalmente chegando a recriar Nova York dentro de Nova York. É a idéia de que "a vida é uma peça de teatro" elevada à décima potência. A idéia é ótima, mas é tudo tão demorado e "solene". Há viagens para a Alemanha, para onde a primeira esposa (a ótima Catherine Keener) se muda com a filha pequena. Há vários enterros, reais, imaginários e recriados. Há obras de arte pintadas no tamanho de um selo. Há um momento em que não temos certeza nem sobre o gênero dos personagens. E uma sensação de que tudo vai dar errado, e da maneira mais demorada e dolorosa possível.

Basicamente, não é um filme sobre a vida, mas sobre a morte em vida. Um monumento à inércia e à grandes idéias que nunca se tornam realidade. O que me incomodou mais é que a parte humana da história acaba enterrada nas loucuras do Kauffman. E há um lado humano nos primeiros trinta minutos do filme, aproximadamente, enquanto "Sinédoque, Nova York" ainda é um filme sobre seres humanos. Sobre Caden Cotard (o sempre ótimo Philip Seymour-Hoffman), um diretor de teatro casado com uma artista chamada Adele Lark (Catherine Keener). Os dois estão em terapia de casal e sofrem aquela crise que chega no casamento quando os desapontamentos se tornam maiores do que a admiração mútua. Eles têm uma filha chamada Olive que é um pouco precoce e faz todas as perguntas difíceis. Caden é frequentemente assediado pela moça que trabalha na bilheteria do teatro, Hazel (Samantha Morton), mas nunca cede às insinuações dela. Até que um dia a esposa vai à Alemanha com a filha para uma esposição de arte e, aparentemente, nunca volta. E então o filme deixa o lado humano de lado e embarca nas bizarrices de Charlie Kauffman.

Há uma porção de idéias fantásticas por todo o filme. Há lances brilhantes e a sensação de que algo "genial" está para acontecer. Mas, em minha opinão, Kauffman caiu na armadilha do diretor que não consegue cortar o próprio texto. É tudo lento demais e, francamente, infindável.


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