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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Rebels on the Backlot (livro)

De tantos em tantos anos surge uma geração que tenta mudar a cara do cinema americano. A "indústria", como Hollywood é conhecida, é uma máquina bem lubrificada de fazer filmes que, pontualmente, lança filmes prontos para as telas dos "multiplexes" mundo afora. São filmes comerciais, seguindo fórmulas testadas e aprovadas pelo público que, geralmente, não quer gastar seu dinheiro com um produto arriscado e desconhecido. Mas, felizmente, os tempos mudam. Tradições são quebradas, valores discutidos e o cinema, ainda que tardiamente, acaba seguindo ou revelando novas tendências. Foi assim no final dos anos 60 e na década de 70, quando cineastas como Martin Scorsese, Francis Ford Copolla, Steven Spielberg, George Lucas, Peter Bogdanovich e tantos outros mudaram a forma de se criar filmes nos Estados Unidos. Esta história foi muito bem contada no livro "Easy Riders, Raging Bulls", de Peter Biskind. Os anos 80 viram uma onda de filmes extremamente comerciais (alguns muito bons), mas que não inovavam muito na arte de cinema. Coube aos anos 90, a última década do século XX e do milênio, trazer uma nova geração de cineastas criativos para as telas.

"Rebels on the Backlot" conta a história de alguns destes cineastas, chamados pela autora Sharon Waxman de "rebeldes". Ao contrário da geração cinéfila e universitária dos anos 70, os rebeldes dos anos 90 eram frutos da cultura pop americana, uma mistura de fast food com histórias em quadrinhos, filmes de kung-fu chineses e clipes da MTV. Waxman escolheu destacar seis deles para contar sua história: Quentin Tarantino (Pulp Fiction), Steven Soderbergh (Traffic), David Fincher (O Clube da Luta), Paul Thomas Anderson (Boogie Nights), David O. Russel (Três Reis) e Spike Jonze (Quero ser John Malkovich). Ela também cita outros, como Sofia Coppola (As Virgens Suicidas, Encontros e Desencontros), Sam Mendes (Beleza Americana) e os irmãos Wachowski (Matrix), entre outros, mas o foco são naqueles seis que ela considera os mais influentes e revolucionários no cinema dos 90.

Dividido em 13 capítulos, com apêndices e até uma "linha do tempo" dos fatos narrados no livro, Waxman mistura artigos de revistas e jornais especializados com centenas de entrevistas feitas por ela mesma com os envolvidos. Há muitos detalhes dos bastidores e do processo raramente saudável de se fazer um filme. Assim como em "Easy Riders", há também grande quantidade de fofoca sobre diretores e produtores, geralmente envolvendo sexo e/ou drogas. Há também um ponto de vista mais feminino, claro, que o livro de Peter Biskind. Waxman gosta de falar sobre as mães, namoradas e esposas dos envolvidos, para mostrar as mulheres por trás dos homens por ela descritos.

A "estrela" do livro, de certa forma, é Quentin Tarantino. Foi ele quem, para o bem ou para o mal, nocauteou Hollywood com sua mistura de cultura pop com ultraviolência. Reconhecido pelos roteiros de "Amor à queima roupa" (True Romance, lançado em 1993) e "Assassinos por natureza" (Natural Born Killers, lançado em 1994), Tarantino conseguiu chamar a atenção do ator Harvey Keitel, que o ajudou a conseguir financiamento para "Cães de Aluguel" (Reservoir Dogs, 1992). O filme foi um sucesso inesperado, causando tanto admiração quanto repulsa por sua violência (por sua famosa cena em que Michael Madsen corta a orelha de um policial). Waxman descreve Tarantino como um rapaz sujo e pouco higiênico, pouco ligado a tomar banho ou se barbear. Ela também mostra como ele seria um sujeito traiçoeiro, pronto para esquecer dos amigos assim que chegou ao sucesso. Roger Avary, amigo de longa data, por exemplo, teria sido co-autor de grande parte do roteiro de "Pulp Fiction" (toda a trama envolvendo o boxeador de Bruce Willis teria sido criação de Avary). Como Tarantino queria que os créditos lessem "Escrito e Dirigido por Quentin Tarantino", o nome de Avary teria sido tirado dos créditos de roteiro e recebido apenas um crédito por "estória". Mas Waxman deixa evidente a genialidade de Tarantino como escritor de diálogos, mesmo que nem todas as as histórias fossem realmente dele.

Ganha também destaque no livro a disputa entre George Clooney, estrela da série médica "E.R." e o diretor David O. Russell, na produção de "Três Reis". Russell não gostava do estilo de interpretar de Clooney, mas precisava do apoio do astro para conseguir financiamento para o filme. A atuação de Clooney era questionada diariamente na frente de toda equipe, o que acabou causando atritos. Além disso, Russell seria extremamente cruel e tirânico, deixando de dar atenção a um figurante que teve um ataque epilético em cena. George Clooney teria ido ajudar o rapaz, o que causou uma briga no set de filmagem que chegou aos socos e gritos.

Steven Soderbergh é descrito como um "nerd" talentoso que se viu catapultado ao sucesso quando lançou seu pequeno filme "Sexo, mentiras e videotape", em 1989. O filme foi vencedor no Festival de Cannes e, de repente, Soderbergh era o diretor mais quente de Hollywood. Waxman, porém, o mostra como alguém que gosta de sabotar o próprio sucesso. Soderbergh seguiu "Sexo, mentiras e videotape" com bombas como "Kafka" (1991) ou "Schizopolis" (1996), um filme em que ele contava a história do próprio divórcio, tendo como atores ele próprio, sua ex-mulher e filha. Soderbergh voltaria ao sucesso no final da década de 90, quando lançou filmes como "Erin Brockovich" (que deu o Oscar a Julia Roberts) e "Traffic" (que deu a Soderbergh o Oscar de Melhor Diretor). "Traffic" começou com uma idéia desenvolvida pela produtora Laura Bickford, que queria adaptar para os Estados Unidos uma série britânica de mesmo nome. O filme sofreu diversas mudanças e passou pela mão de vários estúdios, que não queriam tocar no tema polêmico das drogas. Quando Soderbergh estava para fazer "Traffic" como um projeto pequeno pelo estúdio USA Films, Harrison Ford se interessou por um papel e, de repente, o filme se tornou de grande orçamento...somente para ver Ford desistir a um mês do início das filmagens. O papel acabou ficando com Michael Douglas.

São também interessantes as histórias sobre como "Clube da Luta", de David Fincher, custou 75 milhões de dólares e foi um fracasso enorme na bilheteria (para, depois, se tornar um sucesso "cult" nas vendas em DVD). A produção do bizarro roteiro de "Quero ser John Malkovich" também rende bons capítulos. E Paul Thomas Anderson mostra como conseguiu convencer os estúdios a aceitar que filmes como "Boogie Nights" e "Magnólia" fossem feitos.

"Rebels on the Backlot". Sharon Waxman. 386 páginas. Harper Perennial. Inglês.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sinédoque, Nova York

Um diretor de teatro. Um ator que interpreta este diretor. Uma esposa. Não, duas esposas. Duas filhas pequenas, quase idênticas. Uma psicóloga que parece estar exatamente no lugar certo o tempo todo. Uma casa permanentemente em chamas, mas ninguém parece notar. Nova York. Um cenário de Nova York, dentro de Nova York. E assim por diante. Sinédoque, me informa o dicionário, é "tomar a parte pelo todo". Cinco cabeças de gado. "Cabeça" no lugar de boi. O que nos leva a "Sinédoque, Nova York", filme de estréia na direção do roteirista Charlie Kauffmann. Ele é o responsável pelos roteiros menos convencionais feitos pelo cinema americano nos últimos anos. Suas histórias têm algumas características em comum, como a metalinguagem, os personagens masculinos geniais mas confusos, a presença do fantástico no dia a dia e assim por diante. Ele escreveu filmes como "Quero ser John Malkovich", "Adaptação", "Confissões de uma mente perigosa" e "Brilho Eterno de uma mente sem lembranças".

Ele chega agora à direção em um filme (escrito por ele, naturalmente) que carrega todas estas características e as leva ao extremo absoluto. Por um lado, parece genial. Por outro, ao chegar ao final da longa sessão de cinema (são 124 minutos que, francamente, parecem mais) fica difícil chegar à uma conclusão sobre o filme. Resumo rápido: Um diretor de teatro hipocondríaco que ganha um prêmio em dinheiro resolve fazer uma peça que embarque toda a sua vida e o mundo à sua volta. Ele contrata um ator não só para interpretá-lo, mas para segui-lo 24 horas por dia e saber todos os detalhes de sua vida. Há também atrizes que substituem sua segunda mulher, Claire (Michelle Williams) e sua assistente, Hazel (Samantha Morton). Dentro de um galpão enorme em Nova York, aos poucos ele vai recriando seu apartamento, os prédios em volta, finalmente chegando a recriar Nova York dentro de Nova York. É a idéia de que "a vida é uma peça de teatro" elevada à décima potência. A idéia é ótima, mas é tudo tão demorado e "solene". Há viagens para a Alemanha, para onde a primeira esposa (a ótima Catherine Keener) se muda com a filha pequena. Há vários enterros, reais, imaginários e recriados. Há obras de arte pintadas no tamanho de um selo. Há um momento em que não temos certeza nem sobre o gênero dos personagens. E uma sensação de que tudo vai dar errado, e da maneira mais demorada e dolorosa possível.

Basicamente, não é um filme sobre a vida, mas sobre a morte em vida. Um monumento à inércia e à grandes idéias que nunca se tornam realidade. O que me incomodou mais é que a parte humana da história acaba enterrada nas loucuras do Kauffman. E há um lado humano nos primeiros trinta minutos do filme, aproximadamente, enquanto "Sinédoque, Nova York" ainda é um filme sobre seres humanos. Sobre Caden Cotard (o sempre ótimo Philip Seymour-Hoffman), um diretor de teatro casado com uma artista chamada Adele Lark (Catherine Keener). Os dois estão em terapia de casal e sofrem aquela crise que chega no casamento quando os desapontamentos se tornam maiores do que a admiração mútua. Eles têm uma filha chamada Olive que é um pouco precoce e faz todas as perguntas difíceis. Caden é frequentemente assediado pela moça que trabalha na bilheteria do teatro, Hazel (Samantha Morton), mas nunca cede às insinuações dela. Até que um dia a esposa vai à Alemanha com a filha para uma esposição de arte e, aparentemente, nunca volta. E então o filme deixa o lado humano de lado e embarca nas bizarrices de Charlie Kauffman.

Há uma porção de idéias fantásticas por todo o filme. Há lances brilhantes e a sensação de que algo "genial" está para acontecer. Mas, em minha opinão, Kauffman caiu na armadilha do diretor que não consegue cortar o próprio texto. É tudo lento demais e, francamente, infindável.