quarta-feira, 28 de julho de 2010

400 contra 1 - Uma História do Crime Organizado

Exibido no encerramento do III Festival Paulínia de Cinema, o longa “400 contra 1 – Uma História do Crime Organizado”, de Caco Souza, é confuso e não mostra a que veio. Ele se propõe a ser a biografia de William da Silva Lima, o principal idealizador da organização criminosa Comando Vermelho. Em plena ditadura, criminosos comuns e prisioneiros políticos dividiram as celas da colônia penal conhecida como “caldeirão do diabo”, na Ilha Grande. A convivência levou a uma troca de idéias entre os “subversivos”, que pregavam a revolução e o socialismo, e os presos comuns.

O tema já foi tratado, de forma muito melhor, pela cineasta Lúcia Murat em “Quase Dois Irmãos”, de 2004, com Caco Ciocler e Flávio Bauraqui. “400 contra 1” até começa bem, em 1980, mostrando um assalto a banco praticado pelo grupo de William (Daniel de Oliveira). A trilha sonora da época acompanha uma câmera nervosa e boa edição, prometendo um filme vibrante. Mas então começam os problemas. Em vinhetas exageradas e repetitivas, o filme dá saltos constantes no tempo, alternando datas nos anos 70, quando William foi preso na Ilha Grande, com outros momentos que mostram fugas de presos, reuniões do grupo fora do presídio e cenas de William com a amante interpretada por Daniela Escobar. Estes saltos no tempo são confusos e fora de ordem cronológica. Cenas dentro do presídio são intercaladas com outras fora, em épocas diferentes, e não fica claro exatamente qual a ligação entre elas. O filme não precisaria ter sido feito em ordem cronológica, mas estes pulos temporais não têm função alguma além de tentar dar ao filme um estilo moderno, não linear.

Para complicar, o ritmo é atrapalhado por uma narração teatral e panfletária de Daniel Oliveira, como William, que é redundante e desnecessária. Há também a personagem de uma jovem advogada (Branca Messina) que vai à Ilha Grande entrevistar os presos e supostamente revelar abusos de autoridade praticados pela direção do presídio, mas é também uma personagem perdida. O filme lembra, em alguns momentos, o alemão “O Grupo Baader Meinhof”, que também mostrava uma organização criminosa que agia, inicialmente, com fins políticos.

Por fim, falta ao filme explicar qual a importância de transformar a vida de William em filme. É o retrato de um revolucionário? É a celebração de um bandido? Em que a criação do Comando Vermelho mudou a história do Rio de Janeiro? Nenhuma destas questões é respondida satisfatoriamente e o que sobra é um filme com estilo truncado, muita violência e pouco conteúdo.


2 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

Olá

Vou usar teu texto de 400 CONTRA 1 no Kinemail dessa sexta, pois o filme estreia aqui sem aviso nem notícia, OK? Quantas estrelinhas tu darias, de 1 a 5? Acho que 2, e olhe lá. Confere?

abs
Fernando
www.kinemail.com.br

João Solimeo disse...

Duas estrelas tá ótimo. Abraço!