sábado, 7 de agosto de 2010

Brilho de uma Paixão

A vida amorosa na Inglaterra do século XIX é quase tão difícil de entender, hoje, quanto o modo de vida da época. "Brilho de uma paixão", escrito e dirigido por Jane Campion (de "O Piano"), é bem sucedido em descrever os dois. Em uma época antes da energia elétrica e cheia de convenções sociais, o destino de uma mulher de posses era aprender francês, dança, costura e aguardar o pretendente certo. Fanny Browne (Abbie Cornish) não concordava com essas idéias. Inteligente e decidida, ela costurava as próprias roupas, de estilo "moderno", e não tinha medo de expor suas opiniões. Ela desprezava a obra de um poeta chamado Charles Brown (Paul Schneider), amigo e mecenas do jovem John Keats (Ben Whishaw). Keats publicou seus primeiros poemas, mas foi massacrado pela crítica. Fanny Browne compra o livro dele e reconhece seu talento.

Aos poucos, e seguindo as rígidas convenções da época, um romance platônico se estabelece entre os dois. Campion enche a tela de imagens de grande beleza enquanto Fanny e Keats passeiam por jardins floridos, conversam, flertam e, mais tarde, trocam cartas de amor. Como é bom ver um filme que celebra a arte e a beleza das palavras. Uma paixão cada vez maior cresce entre os dois jovens mas, apesar do idílio presente, o futuro não é muito promissor. Keats não tem dinheiro e seus poemas não vendem. Ele vive dos recursos do amigo Brown, que o trata mal e tem ciúmes da atenção que ele dá a Fanny.

Como todo bom poema romântico, a história de Fanny e Keats está fadada a passar pelas dores da paixão. Visualmente, o filme acompanha a decadência da saúde do poeta, e os campos floridos dão lugar a paisagens frias, chuva e neve. Keats contrai tuberculose, o que significava uma sentença de morte no século XIX, e os colegas juntam dinheiro para mandá-lo à Itália, o que significaria a separação de Fanny. Aos olhos dos relacionamentos de hoje, os impedimentos à união do casal parecem absurdos, mas eram os costumes da época. Por quase três anos Fanny Browne e John Keats dividiram o mesmo teto, já que Keats e o amigo eram inquilinos da família de Fanny. Ainda assim, o relacionamento entre eles se manteve casto. Campion representa isso visualmente, colocando barreiras como janelas e paredes entre o casal. Quando Keats fica realmente doente e ele tem que passar alguns dias sob os cuidados de Fanny e sua mãe, eles se tornam noivos para não causar embaraços.

John Keats morreu em 1821, na Itália, aos 25 anos, e é considerado um dos maiores poetas românticos da literatura inglesa. O filme de Campion consegue a difícil tarefa de passar das palavras escritas para a imagem em movimento. Destaque deve ser dado à atriz infantil Edie Martin, que interpreta Toots, irmã de Fanny, que rouba algumas cenas. "Brilho de uma Paixão" está em cartaz, em Campinas, no Topázio Cinemas.


2 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

É lindo esse filme, não? Vi às pressas na Mostra SP (num dia em que vi 6 filmes!), mas quando revi aqui no Recife, o filme cresceu muito. É genuinamente romântico, em tempos que as pessoas acham 'românticos' esses filmes chulés com as Jennifers de Hollywood... Pena que ficou só uma semana em cartaz aqui. Grande filme, um retorno digno de Jane Campoin, que andava sumida. Por fim, Abbie Cornish está fantástica, merecia ser indicada ao Oscar que (ohmygod!) Sandra Bullock ganhou eh eh

João Solimeo disse...

Pois é, falar de Sandra Bullock no Oscar é o fim da picada. De fato, é um filme romântico no sentido mais profundo do termo. Não é uma "comédia romântica" nem um dramalhão. São pessoas que se amam separadas por um manto de normas sociais e frases educadas. E, no final, pela doença, claro.