domingo, 27 de maio de 2012

O dia em que eu não nasci

Maria Falkenmeyer (Jessica Schwarz) é uma nadadora  alemã que precisa ir a Santiago, Chile, participar de uma competição. Na ida, ela faz uma conexão em Buenos Aires, e enquanto espera pelo voo, escuta uma mãe cantando para fazer um bebê dormir. A música causa grande comoção em Maria que, surpresa, percebe que ela não só entende as palavras, como conhece aquela canção de ninar. Ela decide ficar em Buenos Aires e, ao ligar para o pai na Alemanha, tem outra surpresa; Anton Falkenmeyer (Michael Gwisdek), o homem que ela chamou de pai a vida toda, vai até Buenos Aires para lhe dizer que, na verdade, ela havia sido adotada quando bebê. Os pais verdadeiros foram presos durante a ditadura argentina e ela fora levada para a Alemanha. Maria começa então uma jornada de autoconhecimento na capital argentina, mas logo descobre que há muito mais que ela não sabe sobre sua vida.

Há uma longa reportagem na revista Piauí desde mês escrita por Francisco Goldman (publicada originalmente na revista The New Yorker) que fala justamente sobre os desaparecidos da "Guerra Suja", o período da ditadura portenha. Milhares de crianças teriam sido tiradas dos pais, que morreriam em campos de tortura, e adotados por famílias favoráveis ao governo militar. Houve inclusive um escândalo protagonizado pelo alta cúpula do principal jornal do país, O Clarín. No filme dirigido por Florian Cossen, explora-se a ideia de que algumas destas crianças foram levadas para fora da Argentina. A cidade de Buenos Aires vibra na fotografia quente de Matthias Fleischer, enquanto Maria anda pelas ruas à procura de sua origem. Ela consegue fazer com que o pai adotivo lhe diga os nomes de seus pais verdadeiros e, com a ajuda de um policial, Alejandro (Rafael Ferro), localiza alguns parentes, que mal conseguem acreditar que ela ainda esteja viva. É sempre interessante quando, no cinema, o encontro de pessoas de línguas diferentes é feito de forma realista; é o caso deste filme. Há uma cena muito boa quando Maria encontra Estela (Beatriz Spelzini), sua tia e, mesmo sem entender o idioma, há um momento de muita emoção. Estela havia procurado pela sobrinha por anos, após a morte da irmã e do cunhado nas mãos da ditadura, e já havia perdido a esperança.

O reencontro, no entanto, está longe de ser um final feliz. Em que circunstâncias Maria teria sido levada para a Europa? Por que é que seus pais adotivos nunca entraram em contato com a família verdadeira? Por que não lhe disseram a verdade sobre sua origem? Alejandro, o policial, diz a Maria que ela faz perguntas demais, e que ele nunca havia perguntado ao pai, um militar, o que ele havia feito durante a ditadura. "Tenho medo de descobrir algo que me faça odiá-lo", diz ele. O filme chega em um momento interessante também na história brasileira, quando pela primeira vez se forma uma comissão da verdade para investigar os crimes cometidos pelo governo militar (e, por outro lado, causa polêmica entre os que gostariam que também se investigassem os crimes que teriam sido cometidos pela esquerda). A viagem ao passado de Maria pode lhe trazer a verdade, mas também tirar muita sujeira de debaixo do tapete. Visto no Topázio Cinemas.


Observação: O "trailer" abaixo, na verdade, é um longo trecho do filme e não tem legendas, mas é o único vídeo encontrado no youtube sobre o filme

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