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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Além da Vida

Não foi só no Brasil que o espiritismo atraiu a atenção dos cineastas ultimamente. Depois que filmes nacionais como "Chico Xavier", "Nosso Lar" e "As Cartas Psicografadas por Chico Xavier" foram exibidos por aqui, chega agora aos cinemas "Além da Vida", com Matt Damon e direção de Clint Eastwood. A questão do que po de haver depois da morte sempre afligiu o ser humano. Shakespeare já falava, em Hamlet, sobre a "terra desconhecida, de onde ninguém jamais voltou". Clint Eastwood trata do tema do ponto de vista dos sobreviventes, que tem que suportar a perda de alguém e que, às vezes, querem tentar "fazer contato" com os que partiram.

Matt Damon é George Lonegan, um homem comum que, depois de quase morrer em uma cirurgia delicada quando criança, recebeu um "dom". Ao tocar em uma pessoa, ele pode, aparentemente, entrar em contato com os entes queridos dela que morreram. George não vê sua habilidade como um dom, mas como uma maldição, pois impede que ele tenha qualquer tipo de relacionamento normal com alguém. Eastwood e Damon fazem um bom trabalho ao mostrar como George evita o contato físico com todos à sua volta. Uma das situações mais complicadas (e doces) do filme é seu "relacionamento" com Melanie (Bryce Dallas Howard). Os dois fazem um curso de culinária e as cenas entre eles são conduzidas por Eastwood com muita elegância. Melanie, frágil e carente, sente-se atraída por George, mas como retratar um romance em que o casal não pode se tocar, e tornar as cenas interessantes? Novamente, é com muita sensibilidade que Eastwood resolve a situação, em uma cena da aula de culinária que envolve o uso de vendas e a degustação de alguns temperos.

Há outras duas tramas que correm paralelas à de George. Na França, uma jornalista chamada Marie LeLay (a bela Cécile de France, de "Um segredo em família") volta mudada de uma viagem à Tailândia. Em uma cena espetacular logo no início do filme, Marie quase morre afogada por um tsunami que destrói tudo por onde passa. Na verdade, talvez ela tenha realmente morrido e visto, por alguns segundos, o "outro lado", a conhecida imagem da luz branca e sensação de paz descrita por milhares de pessoas. Marie pede afastamento do trabalho e começa a escrever um livro sobre o assunto.

Em Londres, um garoto chamado Marcus (Frankie McLaren) sofre com a perda do irmão gêmeo em um acidente. Para piorar, a mãe é viciada em drogas e é levada para uma clínica de recuperação. Sentindo muita falta do irmão, Marcus começa a investigar a vida após a morte, chegando a consultar vários tipos de "videntes", muitos deles charlatões.

O roteiro de Peter Morgan não toma partido, o que por vezes deixa o filme superficial. A direção de Eastwood e a qualidade das interpretações, porém, superam alguns tropeços da trama, que quase cai no sensacionalismo quando Marie discursa sobre uma "conspiração" para silenciar os que acreditam na vida após a morte. A trilha sonora, do próprio Eastwood, é um pouco melodramática. Um dos temas, aliás, é praticamente uma cópia do segundo movimento do Concerto número 2 para Piano e Orquestra de Rachmaninov. Em um filme sobre a vida após a morte, Eastwood, acertadamente, está mais interessado nos vivos e faz um tipo de cinema raro hoje em dia (da sala ao lado se podia escutar o barulho de tiros e explosões comuns aos cineplexes), com tempo para o desenvolvimento das tramas e respeito pelos personagens.


domingo, 29 de agosto de 2010

Um Segredo em Família

François Grimbert é um garoto amedrontado. Enquanto seus pais, Maxime (Patrick Bruel) e Tania (Cécile de France), são atletas, ele é um rapaz fraco e fechado, que tem um irmão imaginário. Este irmão, ao contrário dele, é forte, ágil e é o orgulho dos pais. São os anos 50 na França, captados pelo diretor Claude Miller em tons fortes e coloridos. O que há de errado com François? Por que a sensação de que há “fantasmas” na vida de seus pais?

“Um Segredo em Família” é baseado na história real de Philippe Grimbert e mostra a ferida do Holocausto de outra forma. François nasceu em uma família judaica e foi circuncidado quando criança, como pregam os ritos. Um pouco mais velho, no entanto, ele é batizado católico pelos pais. Como toda criança, ele capta trechos de conversas sussurradas pelos adultos e constrói sua própria fantasia sobre como os pais se conheceram, se apaixonaram e se casaram. A verdade, porém, é muito mais sombria, e quando adolescente François descobre que há mais verdades na história de seu irmão “imaginário” do que ele pensava.

A trama do filme é muito mais interessante do que o modo como a história é contada. Duas histórias se desenrolam na primeira parte, os anos 50 na França (em colorido) e trinta anos depois, em 1985, em um preto e branco apagado. Estas cenas nos anos 80 mostram François (o ótimo Mathieu Almaric) como um terapeuta especializado em crianças com problemas. Seu pai está desequilibrado com a morte do cachorro, que foi atropelado, e François ainda tem memórias dolorosas da infância. O meio do filme, com François já adolescente, marca o início de outra história, que se passa antes da II Guerra Mundial e revela quem era o irmão “fantasma” de François, um garoto chamado Simon. Seu pai era casado com outra mulher, Hannah (Ludivine Sagnier), mas nutria uma paixão secreta pela cunhada, Tara. A história é muito interessante, mas o filme ganharia com uma narrativa mais linear. O nazismo começa a estender suas garras e os judeus franceses são obrigados a usar a Estrela de Davi, para desgosto de Maxime, que se recusa. Interessante o espelhamento das imagens entre François, no início do filme, e Simon, nesta segunda parte. Simon é um garoto atlético como o pai, e Hannah é a típica esposa judaica perfeita. Mas a atração física cada vez maior que Maxime sente por Tara começa a ficar aparente, o que leva a uma tragédia quando a família tenta fugir dos nazistas para o outro lado da fronteira.

O diretor Claude Miller, que foi gerente de produção de vários filmes do mestre François Truffaut nos anos setenta, conduz muito bem o elenco e cria uma tensão palpável e não dita entre as duas mulheres de Maxime. A Segunda Guerra e o nazismo deixaram marcas na Europa e na Humanidade que se estendem até hoje. “Things all long gone, but the pain lingers on”, como diria uma letra de “The Wall”, do Pink Floyd. Em todas as guerras, as maiores vítimas são as crianças.