quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Consumido pelo Ódio

Dirigido por Yoishi Sai e contando com Takeshi Kitano no papel principal, o filme é uma deprimente repetição de uma mesma história. Kitano interpreta Kim Shumpei, um imigrante coreano que chega a Osaka, Japão, em 1923. Shumpei é um homem brutal que, logo nas primeiras cenas, é visto batendo e violentando a própria esposa, de quem ficou afastado vários anos. Ele então abre uma fábrica de "kamaboko" (massa de peixe) e, usando métodos violentos para explorar os trabalhadores, muitos deles seus filhos, consegue se enriquecer. Violento e machista, ele tem várias amantes e instala uma delas em uma casa em frente à sua. Sua esposa, filhos e filhas crescem sob constante ameaça de espancamento ou mesmo morte, como quando uma de suas filhas, após uma surra do pai, tenta se matar.
Há uma sensação constante de estrangulamento amplificada pela própria cenografia. O filme é quase todo passado em uma mesma rua (cenográfica) de Osaka, onde Shumpei é ao mesmo tempo respeitado e temido. Pode parecer uma versão japonesa de "O Poderoso Chefão", mas o problema é que o filme bate sempre na mesma tecla. Há uma série de sequências repetitivas em que Shumpei entra em um lugar e quebra tudo e todos que vê pela frente. Sua esposa tem a tradicional submissão feminina oriental, mas mesmo seus filhos não são páreos para ele. O que mais se ressente é Massao (Hirofumi Arai), que é quem narra o filme. Após a tentativa de suicídio da irmã, Massao tenta esfaquear o pai em um banho público e acaba com o nariz e algumas costelas quebradas. Outro filho de Shumpei se torna comunista e acaba preso pela polícia após um atentado. Para ampliar o clima depressivo do filme, uma das amantes de Shumpei tem um tumor do cérebro e se torna totalmente dependente dos outros para comer, se limpar e fazer as necessidades. As únicas cenas em que Shumpei demonstra algum traço humano, aliás, são as que o mostram tomando conta da amante doente. De resto, é uma sucessão de brigas, espancamentos, gritaria e estupros.
Takeshi Kitano, que também é um talentoso diretor, ator e editor de filmes, dá uma interpretação impressionante. Sua presença em tela, sem dúvida, é a melhor coisa do filme. O roteiro é baseado no livro do nipo-coreano Sogin Yan que tenta, em alguns momentos, levantar temas como mostrar a situação da comunidade coreana no Japão, sua dificuldade de adaptação e a saudade da terra pátria. Mas, no fundo, "Consumido pelo Ódio" é apenas a história de um homem cruel que leva sua maldade, literalmente, até o túmulo, em longas duas horas e vinte minutos de duração.


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