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sábado, 15 de maio de 2010

Robin Hood

A figura mítica de Robin Hood já foi mostrada no cinema em diversos filmes. Já no cinema mudo, em 1922, Douglas Fairbanks encarnou o "príncipe dos ladrões", imortalizado depois por Errol Flynn em filme de 1938. Uma das versões mais modernas trazia Kevin Costner no papel, em 1991, sem se preocupar com o sotaque americano. Até "007", Sean Connery, viveu um Robin Hood de meia idade, contracenando com Audrey Hepburn como Lady Marion, em filme dirigido por Richard Lester em 1976.

Agora é a vez da dupla formada pelo diretor Ridley Scott e o ator Russell Crowe (que juntos fizeram "Gladiador", "Um Bom Ano", "O Gângster" e "Rede de Mentiras") de darem sua visão da história. Robin Hood é uma lenda com várias versões. Algumas o mostram como um valente cruzado que lutou ao lado do rei Ricardo Coração de Leão e se tornou protetor dos pobres na Inglaterra. Outras o colocam como simples fora-da-lei que se refugiava na floresta de Sherwood, era bom com o arco e flecha e era apaixonado por Lady Marian. Crowe e Scott tentaram criar uma versão diferente para a lenda, mais realista e mostrando o que teria acontecido antes de Robin ser considerado um fora-da-lei. A intenção pode ter sido boa, mas falta foco ao produto final.

Nesta versão, Russell Crowe é Robin Longstride, um arqueiro do exército de Ricardo Coração de Leão (Danny Huston), um decadente rei da Inglaterra no caminho de volta das Cruzadas, após dez anos de campanha. O exército inglês se encontra na França e eles saqueiam tudo que encontram pela frente. As cruzadas (mostradas pelo próprio Ridley Scott em outro filme) são criticadas em um discurso de Crowe, que descreve como os ingleses massacraram mais de duas mil mulheres e crianças muçulmanas em uma cidade. Ricardo Coração de Leão morre de forma estúpida, atingido pela flecha de um cozinheiro francês, e sua coroa deve ser levada para a Inglaterra pelo cavaleiro Robert Loxley. Só que ele morre em uma emboscada de um traidor inglês, Godfrey (Mark Strong, de "Sherlock Holmes") e, por um golpe do destino, a coroa inglesa vai parar nas mãos de Robin Longstride, que assume a identidade de Robert Loxley e parte para a Inglaterra. Lá ele conhece Lady Marian (Cate Blanchett), esposa do verdadeiro Loxley, e Sir Walter Loxley (Max von Sidow), o pai dele.

Robin acaba tomando o lugar de Robert Loxley no coração de Marian e como filho substituto de Sir Walter, mas a situação nunca convence. E, a bem da verdade, será que tudo isso importa? Os personagens "tradicionais" das lendas de Robin Hood estão ali, como João Pequeno (Kevin Durand), o gordo Frei Tuck (Mark Addy), o Sherife de Nottinghan (Matthew MacFadyen) e o Príncipe João (Oscar Isaac), mas a trama, ao invés de focar no herói Robin Hood, envereda por intrigas políticas, longas discussões na corte inglesa e francesa e em um contexto "social" que tenta discutir a opressão da monarquia sobre o povo comum. Tudo muito "nobre", mas será que isso deveria ser o foco principal em um filme sobre Robin Hood?

Ridley Scott, é fato, é um artista, e fotografia, figurino, direção de arte e cenários (que parecem realmente estar lá, ao invés de serem criados em computação gráfica) são impecáveis. Mas roteiro e edição, estranhamente, cometem falhas flagrantes. Há uma gigantesca cena de batalha entre ingleses e franceses que mostra Robin no topo dos penhascos da Inglaterra e, praticamente ao mesmo tempo, cavalgando contra os franceses na praia, lá embaixo. Igualmente confusa é uma sequência em que o vilão Godfrey ataca a propriedade de Lady Marian.

Longo, com quase duas horas e meia de duração, o filme acaba deixando a platéia inquieta pelo passo lento e pelas opções do roteiro. A idéia de dar outra versão à história de Robin Hood pode ter sido boa, mas a execução, infelizmente, fica devendo.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Estrada

Há muitos ecos de "Filhos da Esperança" em "A Estrada", outro daqueles filmes pós-apocalípticos tão adorados pela ficção científica. Baseado em um livro de Cormac MacCarthy, "A Estrada" alterna momentos de extremo realismo e crueldade com outros ternos, beirando perigosamente a pieguice, principalmente por culpa do piano repetitivo da tilha sonora.

Viggo Mortensen é um ator corajoso, que poderia ter explorado sua boa figura e seu sucesso na trilogia "O Senhor dos Anéis" para fazer filmes mais fáceis e lucrativos. Mas ele preferiu um caminho mais desafiador e tem trabalhado frequentemente com David Cronenberg. Aqui ele é "O Pai", um personagem sem nome que, após perder a mulher e o mundo que conhecia em um evento que destruiu a Terra (não se explica o que aconteceu), vive para seu filho único. Os dois partem para uma viagem na "Estrada", a caminho do mar, este eterno símbolo de volta ao útero materno. A relação entre pai e filho é tocante, e subverte a noção de ligação da criança com a figura da mãe. Ela é vista em flashbacks na figura de Charlize Theron que, ao contrário do Pai, não vê sentido em continuar vivendo, nem mesmo por seu filho. As memórias da esposa assombram os pesadelos de Pai e Filho na estrada, indo em frente sem saber exatamente o porquê. Há várias referências bíblicas e até uma afirmação "pró vida" no modo como o Pai trata do Filho. Embora seja uma relação complicada. Há uma clara referência ao mito bíblico de Abraão, que teria sido ordenado por Deus a matar o próprio filho. O Pai anda com uma arma com duas balas na cintura, uma para ele e outra para o filho, no caso da situação ficar insuportável.

"A Estrada" tem direção de John Hillcoat, que é corajoso o suficiente para não transformar o filme em uma simples "mensagem" de esperança. O Pai diz ao filho que eles devem continuar vivendo, e que eles fazem parte do grupo dos "bons". Os "maus" são homens que desceram ao nível mais baixo que um ser humano pode chegar, que é o canibalismo. Há várias sequências em que eles são vistos, às vezes perto demais, e há uma arrepiante cena de suspense quando o Pai vai verificar o que há no porão de uma casa. É também em um subterrâneo que Pai e Filho encontram um paraíso na forma de produtos que nós, vivendo no mundo moderno, não imaginamos a importância. O filme conta com a participação especial de coadjuvantes de alto nível. Tente reconhecer Robert Duvall ou Guy Pierce entre as poucas figuras encontradas durante a jornada de Pai e Filho em direção do mar.

É um bom filme, na mesma linha de Mad Max, Eu sou a Lenda, Filhos da Esperança e tantos outros. Mas lhe falta uma amarração melhor, algum senso de propósito ao final da jornada. É episódico e muitas vezes repetitivo. As interpretações, sem dúvida, são seu ponto forte.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Consumido pelo Ódio

Dirigido por Yoishi Sai e contando com Takeshi Kitano no papel principal, o filme é uma deprimente repetição de uma mesma história. Kitano interpreta Kim Shumpei, um imigrante coreano que chega a Osaka, Japão, em 1923. Shumpei é um homem brutal que, logo nas primeiras cenas, é visto batendo e violentando a própria esposa, de quem ficou afastado vários anos. Ele então abre uma fábrica de "kamaboko" (massa de peixe) e, usando métodos violentos para explorar os trabalhadores, muitos deles seus filhos, consegue se enriquecer. Violento e machista, ele tem várias amantes e instala uma delas em uma casa em frente à sua. Sua esposa, filhos e filhas crescem sob constante ameaça de espancamento ou mesmo morte, como quando uma de suas filhas, após uma surra do pai, tenta se matar.
Há uma sensação constante de estrangulamento amplificada pela própria cenografia. O filme é quase todo passado em uma mesma rua (cenográfica) de Osaka, onde Shumpei é ao mesmo tempo respeitado e temido. Pode parecer uma versão japonesa de "O Poderoso Chefão", mas o problema é que o filme bate sempre na mesma tecla. Há uma série de sequências repetitivas em que Shumpei entra em um lugar e quebra tudo e todos que vê pela frente. Sua esposa tem a tradicional submissão feminina oriental, mas mesmo seus filhos não são páreos para ele. O que mais se ressente é Massao (Hirofumi Arai), que é quem narra o filme. Após a tentativa de suicídio da irmã, Massao tenta esfaquear o pai em um banho público e acaba com o nariz e algumas costelas quebradas. Outro filho de Shumpei se torna comunista e acaba preso pela polícia após um atentado. Para ampliar o clima depressivo do filme, uma das amantes de Shumpei tem um tumor do cérebro e se torna totalmente dependente dos outros para comer, se limpar e fazer as necessidades. As únicas cenas em que Shumpei demonstra algum traço humano, aliás, são as que o mostram tomando conta da amante doente. De resto, é uma sucessão de brigas, espancamentos, gritaria e estupros.
Takeshi Kitano, que também é um talentoso diretor, ator e editor de filmes, dá uma interpretação impressionante. Sua presença em tela, sem dúvida, é a melhor coisa do filme. O roteiro é baseado no livro do nipo-coreano Sogin Yan que tenta, em alguns momentos, levantar temas como mostrar a situação da comunidade coreana no Japão, sua dificuldade de adaptação e a saudade da terra pátria. Mas, no fundo, "Consumido pelo Ódio" é apenas a história de um homem cruel que leva sua maldade, literalmente, até o túmulo, em longas duas horas e vinte minutos de duração.


quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O Filho da Noiva

Ainda não havia visto este filme argentino, lançado em 2001 e candidado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Dirigido por Juan José Campanella, "O Filho da Noiva" é inteligente, doce e extremamente bem escrito. Passado em Buenos Aires, o filme trata da família Belvedere, cujo filho Rafael, quando criança, sonhava que era o herói "Zorro" e cresceu para herdar o restaurante italiano da família. Rafael (Ricardo Darín) é um pai separado que tem que lidar com as pressões diárias de tocar o restaurante, lidar com fornecedores, orientar os empregados, enfrentar a ex-mulher e dar atenção à filha pequena. Para complicar, sua mãe (Norma Aleandro) sofre do mal de Alzheimer e mora em um asilo, onde é visitada diariamente pelo marido devotado, Nino Belvedere (o excelente Héctor Alterio).

Um dia, após uma jornada particularmente estressante, Rafael sofre um ataque cardíaco e vai parar na UTI, onde fica 15 dias internado. A pausa forçada o faz repensar sua vida e sua rotina, e a princípio ele começa a ter sonhos vagos de querer largar tudo e ir para o México. Isso magoa sua atual namorada, a jovem e bela Naty (Natalia Verbeke), que tinha planos a longo prazo com Rafael.

O roteiro, do próprio diretor em parceria com Fernando Castets, é muito bem escrito e, mesmo lidando com todo este drama, muito bem humorado. Rafael tem aquela mentalidade parecida com a do brasileiro, e pergunta a um investidor: "Crise? Que crise? Quando não é inflação é recessão, estamos sempre em crise". A trama tem várias ramificações interessantes, como um amigo de infância de Rafael, Juan Carlos (Eduardo Blanco, muito engraçado), que reaparece do nada e passa a se interessar pela família dele (Juan Carlos havia perdido a própria em um acidente de carro). Ou o fato do pai de Rafael, Nino, querer se casar na igreja com sua mulher após 44 anos de união não oficial. O padre da igreja fica comovido com a história, mas argumenta que o direito canônico provavelmente não aceitaria o fato de que a noiva não tem capacidade para decidir por conta própria o que quer (a contra argumentação de Rafael, que diz que se casou sem nenhum discernimento com o consentimento da igreja, e quando quis se separar de forma consciente foi proibido pela mesma igreja, é ótima).

Há vários filmes sobre o Mal de Alzheimer, como o belo "Longe Dela" ou "Íris", mas o foco em "O Filho da Noiva" não é apenas a doença. O filme se concentra com carinho nos personagens, pessoas comuns enfrentando os problemas do dia a dia e lidando com as complicações do amor. Boa pedida para ver em DVD.


domingo, 19 de julho de 2009

Antes que o mundo acabe

"Antes que o mundo acabe" foi o último filme exibido na competição oficial do II Festival Paulínia de Cinema, no dia 15 de julho e, em minha opinião, foi o filme mais gostoso de ver do festival. Dirigido por Ana Luiza Azevedo, "Antes que o Mundo Acabe" é uma produção da prolífica "Casa de Cinema de Porto Alegre", responsável por alguns dos melhores filmes nacionais dos últimos anos, como "Tolerância" (Carlos Gerbase), "O Homem que Copiava", "Meu Tio Matou um Cara" ou "Saneamento Básico" (todos de Jorge Furtado). Azevedo foi assistente de direção de Furtado e autora de vários curtas da casa, e faz sua estréia na direção de longas metragens. Baseado no livro de Marcelo Carneiro da Cunha, o roteiro foi escrito por Azevedo, Jorge Furtado, Paulo Halm e Giba Assis Brasil (que também é o editor do longa).

O filme conta a história do adolescente Daniel (Pedro Tergolina). Com 15 anos de idade, ele se encontra naquela fase em que os hormônios levam a melhor e tudo parece mudar muito depressa. Sua namorada, Mim (Bianca Menti) está em dúvidas sobre o namoro e pede "um tempo" a Daniel. "Quanto tempo é um tempo?", pergunta ele. Para complicar, ela está interessada no melhor amigo dele, Lucas (Eduardo Cardoso), que é o responsável pelo laboratório de Química no colégio onde os três estudam. Um dia Lucas sai mais cedo e deixa o laboratório sob a responsabilidade de Daniel. Ao descobrir que o melhor amigo está saindo com sua namorada, Daniel destrói o laboratório em um acesso de fúria e a culpa recai sobre Lucas. Além de estar com problemas com a namorada e o melhor amigo, Daniel começa a receber cartas da Tailândia de um fotógrafo que diz ser seu pai verdadeiro.

Tudo isso é contado de forma leve e divertida, sem cair no lugar comum. Daniel tem uma irmã menor chamada Maria Clara (Caroline Guedes) que tem um modo todo particular de ver o mundo. Parte da história é narrada por ela de uma forma que me lembrou muito o tipo de cinema feito por Jorge Furtado desde sua obra prima, o curta metragem "Ilha das Flores" (que consiste em criar "hyperlinks" entre os fatos do filme e informações extra filme). O fato do pai verdadeiro de Daniel ser fotógrafo também se presta para que o visual da obra seja muito interessante. Há várias referências à linguagem fotográfica e cinematográfica, como no brinquedo que Maria Clara tem no quarto (um zootropo, um dos primeiros aparelhos de imagens em movimento da história), ou nas colagens de figuras que ela faz. A narração também fala sobre as sociedades "poliândricas", em que as mulheres podem ter vários maridos, e o pai de Daniel pergunta a ele como isso seria visto aqui no Brasil. Claro que isso faz referência ao comportamento não só da namorada de Daniel como também do de sua mãe. Daniel é um garoto com "dois pais", um biológico e distante e um padrasto presente e gentil.

Tudo se passa na pequena cidade de Pedra Grande (RS), com uma passagem por Porto Alegre. Apesar da maioria da população ainda se locomover em bicicletas e o filme ter um ar que remete a uma vida mais pacata, é interessante notar que a tecnologia moderna não é deixada de fora; ela é representada pelo computador e aplicações da internet que já se tornaram lugar comum, como chats, Google Earth, sites de fotos e de busca (todos abrasileirados e adaptados de forma divertida). Quando Daniel ganha uma câmera fotográfica, é sua vez de registrar o que vê à sua volta e tentar tirar algum sentido disso. Será que tudo é o que parece? Será que o Brasil é tão diferente de um lugar distante como a Tailândia? Ou a globalização está nos deixando todos iguais?

"Antes que o mundo acabe" ganhou o prêmio da crítica no Festival de Paulínia e Ana Luíza Azevedo o de Melhor Direção. O filme ainda levou os prêmios de Melhor Fotografia (Jacob Solitrenick), Trilha Sonora (Leo Henkin), Figurino (Rosangela Cortinhas) e Direção de Arte (Fiapo Barth).