Mostrando postagens com marcador juan josé campanella. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador juan josé campanella. Mostrar todas as postagens

sábado, 13 de março de 2010

O Segredo dos Seus Olhos

“O Segredo dos seus olhos” surpreendeu ao ganhar, no último dia 7 de março, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O favorito era “A Fita Branca”, de Michael Haneke, premiado com a Palma de Ouro em Cannes e o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro. Mas o filme do argentino Juan José Campanella tem méritos suficientes para merecer o prêmio. Campanella já havia sido indicado a um Oscar por “O Filho da Noiva” (2001) e está construindo uma carreira sólida e competente tanto na Argentina quanto nos Estados Unidos, onde dirigiu episódios para várias séries de televisão, como “Law & Order” e “House”. Campanella, é verdade, segue uma “fórmula” em suas histórias. Há o homem de meia idade (representado por Ricardo Darín), inseguro quanto ao próprio talento e apaixonado por uma mulher por quem ele não consegue se declarar. Há o amigo engraçado (geralmente, Eduardo Blanco), mas com algum tipo de problema, como o alcoolismo. Há um fundo político ancorado na conturbada história da Argentina. Foi assim em “O Mesmo Amor, a Mesma Chuva” (1999), em que Ricardo Darín era um escritor que se apaixonava por uma mulher (Soledad Villamil), mas não conseguiu se declarar por anos. Darín e Villamil voltam agora em “O Segredo dos seus olhos”, que acrescenta o elemento do suspense à fórmula de romance de Campanella. Darín é Benjamin Espósito, um oficial de justiça que fica obcecado em solucionar o cruel assassinato de uma moça. São os anos 1970 e a Argentina está às voltas com instituições corruptas e incompetentes. Espósito e o colega Sandoval (Guillermo Francella, substituindo Eduardo Blanco) tentam driblar as dificuldades burocráticas para solucionar o caso, como invadindo a casa do principal suspeito, Isidoro Gómez (Javier Godino), antigo namorado da moça. Eles também são auxiliados por Irene (Villamil), colega de trabalho por quem Espósito é apaixonado.
Campanella, que também é o editor do filme, por vezes o deixa se estender demais. E o final, apesar de coerente com o exposto durante a trama, é muito fantástico. Mas a direção é primorosa, aulixiada pelo competente elenco. Ricardo Darín, que já trabalhou com Campanella em "O Mesmo Amor, a Mesma Chuva" (1999), "O Filho da Noiva" (2001) e "Clube da Lua" (2004), é muito bom em passar as nuances de seu personagem dividido em conquistar Irene e descobrir o assassino da moça. Villamil e Darín, na tela, são sempre verdadeiros, como um velho casal com muita história para contar. Tecnicamente, Campanella consegue o feito de um plano sequência espetacular no ponto chave do filme, um jogo de futebol em que o suspeito é localizado. Uma câmera aérea focaliza um estádio de futebol lotado, se aproxima, entra na platéia e se mistura aos torcedores em um único plano, que continua por cinco minutos ininterruptos, com o suspeito tentando fugir dos oficiais de justiça e da polícia. É um plano fantástico e, o que é mais importante, não é gratuito, passando ao espectador a emoção de estar em um estádio lotado de futebol.
Falando em futebol, o sucesso do filme argentino e a vitória no Oscar causou certa polêmica entre os cinéfilos e críticos brasileiros, revivendo a velha rixa entre os dois países. Pura bobagem. "O segredo dos seus olhos" é um belo filme e deve ser apreciado como tal.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O Filho da Noiva

Ainda não havia visto este filme argentino, lançado em 2001 e candidado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Dirigido por Juan José Campanella, "O Filho da Noiva" é inteligente, doce e extremamente bem escrito. Passado em Buenos Aires, o filme trata da família Belvedere, cujo filho Rafael, quando criança, sonhava que era o herói "Zorro" e cresceu para herdar o restaurante italiano da família. Rafael (Ricardo Darín) é um pai separado que tem que lidar com as pressões diárias de tocar o restaurante, lidar com fornecedores, orientar os empregados, enfrentar a ex-mulher e dar atenção à filha pequena. Para complicar, sua mãe (Norma Aleandro) sofre do mal de Alzheimer e mora em um asilo, onde é visitada diariamente pelo marido devotado, Nino Belvedere (o excelente Héctor Alterio).

Um dia, após uma jornada particularmente estressante, Rafael sofre um ataque cardíaco e vai parar na UTI, onde fica 15 dias internado. A pausa forçada o faz repensar sua vida e sua rotina, e a princípio ele começa a ter sonhos vagos de querer largar tudo e ir para o México. Isso magoa sua atual namorada, a jovem e bela Naty (Natalia Verbeke), que tinha planos a longo prazo com Rafael.

O roteiro, do próprio diretor em parceria com Fernando Castets, é muito bem escrito e, mesmo lidando com todo este drama, muito bem humorado. Rafael tem aquela mentalidade parecida com a do brasileiro, e pergunta a um investidor: "Crise? Que crise? Quando não é inflação é recessão, estamos sempre em crise". A trama tem várias ramificações interessantes, como um amigo de infância de Rafael, Juan Carlos (Eduardo Blanco, muito engraçado), que reaparece do nada e passa a se interessar pela família dele (Juan Carlos havia perdido a própria em um acidente de carro). Ou o fato do pai de Rafael, Nino, querer se casar na igreja com sua mulher após 44 anos de união não oficial. O padre da igreja fica comovido com a história, mas argumenta que o direito canônico provavelmente não aceitaria o fato de que a noiva não tem capacidade para decidir por conta própria o que quer (a contra argumentação de Rafael, que diz que se casou sem nenhum discernimento com o consentimento da igreja, e quando quis se separar de forma consciente foi proibido pela mesma igreja, é ótima).

Há vários filmes sobre o Mal de Alzheimer, como o belo "Longe Dela" ou "Íris", mas o foco em "O Filho da Noiva" não é apenas a doença. O filme se concentra com carinho nos personagens, pessoas comuns enfrentando os problemas do dia a dia e lidando com as complicações do amor. Boa pedida para ver em DVD.