domingo, 4 de abril de 2010

Ervas Daninhas

Escrever sobre "Ervas Daninhas" é tarefa difícil. O último filme do mestre francês Alain Resnais tem de tudo. Tem drama, tem comédia, tem suspense e romance. Tem aviões antigos e uma homenagem aos filmes hollywoodianos.

Marguerite Muir (Sabine Azéma) é uma dentista de meia idade, solteira. Ela sempre compra sapatos no mesmo lugar, em Paris, porque gosta do modo como a vendedora a atende. Saindo da loja, um dia, ela tem sua bolsa roubada, e perde todos os documentos. Sua carteira é encontrada no chão por Georges Palet (André Dussolier), um homem casado que, ao ver as fotos de Marguerite dentro da carteira, começa a fantasiar com ela. Ele tenta ligar para ela, mas não consegue encontrá-la. Leva então a carteira até a polícia, onde o policial Bernard (Mathieu Almaric) o atende, e contata Marguerite. Ela então liga para Georges para agradecer por ter devolvido a carteira, e ele pede para que ela saia com ele. Ela se recusa, e ele passa a lhe escrever e telefonar todos os dias, obcecado.

Tudo isso é mostrado por Resnais de forma extremamente fluida, com movimentos de câmera constantes e por um narrador que passa ao espectador todos os pensamentos dos personagens. Quando Georges está voltando para casa, depois de encontrar a carteira, por exemplo, nós o vemos imaginando como vai ser sua ligação para Marguerite. Assim como todos nós, seu pensamento não é linear, ele ensaia várias frases que pensa em usar quando ela atender... se ela atender. O roteiro vai se tornando cada vez mais fantástico e, em alguns momentos, imaginamos se tudo não passa de algum delírio da imaginação de Georges, ou do tal narrador que conta a história. Tecnicamente, Resnais e seu diretor de fotografia Eric Gautier mantém a câmera se movimentando constantemente em belas tomadas que, por vezes, tomam o lugar da montagem, em planos contínuos que simulam a passagem do tempo.

Interessante também como o cinema americano é tão marcante em remeter a momentos de romance clichê em filmes. Quando Marguerite, intrigada com a atenção de Georges, finalmente vai encontrá-lo, o local não poderia ser outro que não o exterior de um cinema que passa filmes clássicos de Hollywood. A fanfarra tema da 20th Century Fox também é usada em outro momento para remeter à uma cena tipicamente hollywoodiana, quando Georges e Marguerite finalmente se beijam. Mas que o espectador não se iluda, tudo não passa de uma farsa pregada por Alain Resnais no espectador incauto. O filme, classificado como "drama", na verdade é uma deliciosa comédia fantástica, uma brincadeira com os gêneros cinematográficos e com o próprio cinema. Resnais, um dos fundadores da nouvelle vague e diretor de clássicos eternos como "Hiroshima Moun Amour" (1959), está com 88 anos, e deve ter se divertido muito fazendo este filme.

ps: o trailer abaixo, que não tem nada a ver com o filme, mostra como tudo é uma farsa divertida.


5 comentários:

Carol Pin disse...

Muito bom o filme, a risada sai com muita naturalidade e a cia foi bem produtiva, adorei te reencontrar... Beijos

João Solimeo disse...

Pois é, que coincidência, parecia um encontro da Puc, hehe...se marcasse não teria dado certo. O filme é bom mesmo e, sem dúvida, não é um drama, rs.

Unknown disse...

Olá!

Meu nome é Douglas Santos e trabalho na agência publicitária Núcleo da Idéia Comunicação. Gostaria de um e-mail para que possamos entrar em contato direto. Por favor, envie para utopiaebarbarieofilme@gmail.com

Aguardo resposta e agradeço pela atenção.

Anônimo disse...

Engraçado com vimos um filme diferente..
assisti ontem ervas daninhas, e fica a dica, está disponível no making off.
vc fala em fluidez, comédia, riso solto.. eu consegui rir de nervoso em pelo menos dois momentos, um deles foi na cena do avião, o ziper aberto que veio junto com a tensão toda, da expectativa nada clara do que viria.
e chorei tanto nesse filme. a mim parece que resnais falou da forma mais pesada que podia sobre a fragilidade das relações, e em meio a isso, levando em consideração o que tem de risível nisso, apesar de toda dor humana, utilizou da leveza de alguns artifícios do cinema de uma determinada época. confundir isso é perder o filme de vista. ou eu o perdi. :)

João Solimeo disse...

Cinema, como provavelmente toda arte, é um evento em que o espectador leva tanto de si quanto recebe da tela. Experiências pessoais, vivência e bagagem afetam o modo como cada um reage com o filme, e é ai que está a beleza da coisa. Abraço.