quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O Profeta

A situação dos imigrantes, na Europa, é delicadas. Na França, o presidente Nicolas Sarkozy tem implementado leis consideradas racistas contra muçulmanos e ciganos, entre outros povos. Este caldeirão cultural está muito bem representado em "O Profeta", de Jacques Audiard, que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano com "A Fita Branca", de Michael Haneke, e "O Segredo dos seus Olhos", de Juan José Campanella, entre outros.

"O Profeta" é um filme longo, forte, violento e extraordinário. O jovem franco-árabe Malik El Djebena (Tahar Rahim) chega à prisão com 19 anos, após passar uma vida em reformatórios. Não sabe responder à maioria das perguntas ao guarda que preenche sua ficha, como informações sobre seus pais ou se sua primeira língua é o francês ou o árabe. Seu corpo tem as marcas de anos de maus tratos, com diversas cicatrizes. A prisão está dividida; os muçulmanos têm sua parte do pátio, os corsos outra. O "chefe" não oficial da prisão é o corso César Luciani (Niels Arestrup), mafioso que controla diversos negócios ilegais de dentro das grades. Um dia seu grupo se aproxima do recém-chegado Malik e lhe impõe uma missão: ele deve matar um árabe chamado Reyeb (Hichem Yacoubi), testemunha chave de um caso que envolve a máfia. O filme é extremamente violento e os detalhes do assassinato, envolvendo litros de sangue, são mostrados sem pudor. Após o crime, Malik passa a contar com a proteção significativa de Luciani e seus mafiosos corsos. A Córsega, ilha à oeste da Itália, é governada pela França, mas tem seus costumes próprios e até a própria língua.

Malik se encontra em uma posição ao mesmo tempo perigosa e privilegiada. Ele é meio árabe e meio francês, além de muito esperto, o que faz com que ele consiga transitar entre as diversas castas dentro da prisão, iniciando aos poucos seus negócios. Ele é visto pelos muçulmanos como um corso, enquanto os corsos o vêem como um "árabe sujo". O único que percebe seu potencial é César Luciani (em interpretação magistral de Niels Arestrup), que explora a adaptabilidade de Malik para seu proveito. O roteiro é muito inteligente e mostra o embate dentro e fora da prisão destas várias raças e povos, todos vivendo na França. Conforme o filme passa a situação ambivalente de Malik se torna cada vez maior e não se sabe de que lado ele está. O filme lembra um pouco os bons anos de Scorsese e uma de suas obras primas, "Os Bons Companheiros" (de 1990). Forte e realista, o filme assustou alguns espectadores, que abandonaram a sala. Mas é um filme corajoso e muito bem feito, mostrando um dos piores lados da delicada situação dos imigrantes na Europa.


Um comentário:

Carolina Cristina disse...

O filme parece ser muito bom.... As pessoas escolhem um filme para assistir e saem da sala, já que pagou, fique até o final para saber direito a historia... Rssss.... Já aconteceu isso quando eu fui assistir um filme brasileiro que mostra o amor entre dois irmãos (homens)... Rsss...
Bjos...