sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Terms and conditions may apply (Netflix)

Quando Osama Bin Laden morreu, um menino americano de sete anos ficou preocupado com a segurança do presidente Barack Obama. Ele expressou esta preocupação nas redes sociais, dizendo que Obama deveria "tomar cuidado". Poucas horas depois, a escola em que o garoto estudava foi invadida por homens do Serviço Secreto, que levaram o menino para ser interrogado. Um irlandês, pouco antes de viajar para os Estados Unidos, mandou um tweet para os amigos dizendo, metaforicamente, que iria "destruir a América". Ao chegar aos EUA, foi detido no aeroporto e passou horas sendo interrogado sobre a suposta "ameaça terrorista". Um comediante, após passar horas em um fila na loja da Apple, chegou em casa e reproduziu no Facebook trechos do filme "Clube da Luta" (David Fincher) que falavam sobre armas e destruição. O FBI e a SWAT derrubaram sua porta minutos depois, procurando as armas e questionando sobre o "atentado".

O documentário "Terms and conditions may apply" (disponível no Brasil pela Netflix) mostra como estas e outras situações, no limite, foram causadas por nós mesmos ao renunciarmos à privacidade toda vez que aceitamos os "Termos e Condições" de serviços online gratuitos como Google, Facebook, Apple, Microsoft e centenas de outros. Quem lê aqueles contratos? Aparentemente, ninguém, e há um motivo para isso.

O documentário compara as políticas de privacidade do Google e Facebook desde o começo do século até hoje, e muita coisa mudou. Um dos principais motivos (ou a principal justificativa/desculpa) foi o atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. O governo Bush lançou o "Ato Patriótico" que, na prática, permitia às agências vasculhar a vida online e telefônica dos cidadão americanos (e do mundo), sob a justificativa de prevenir ataques terroristas. Um de seus principais opositores era o então Senador Barack Obama que, ao se tornar presidente, não fez nada para mudar esta situação. Na verdade, a maioria dos escândalos envolvendo a NSA (a agência nacional de segurança americana) explodiu durante a administração Obama. (leia mais abaixo)


O mais assustador é que a grande maioria das informações pessoais disponíveis online foram colocadas lá voluntariamente pelas pessoas, ou melhor, por nós mesmos. Por mim e por você que está lendo estas linhas. Este blog, por exemplo, está hospedado no Blogger, que faz parte do Google. Meu login e senha me dão acesso não só ao blog, mas também a uma conta de e-mail, um canal no youtube e dezenas de outros serviços. Ao mesmo tempo que tenho estas comodidades, acabo expondo centenas de informações pessoais que, sinceramente, não sei onde estão armazenadas ou para o quê podem ser usadas.

Um executivo do Google diz, basicamente, que "quem não deve não teme", mas não é tão simples. Uma análise das palavras chave das buscas de alguém pode chegar a uma conclusão completamente equivocada. Por exemplo, uma pessoa que procure por "decapitações", "esposa morta" e "facas" no Google está planejando um assassinato, certo? Cullen Hoback, o diretor do documentário, foi atrás destas informações e descobriu que quem estava por trás delas era um escritor de uma série de televisão, e não um assassino em potencial.

Assim como no filme "Minority Report", de Steven Spielberg, pessoas estão sendo presas ou questionadas por crimes que elas (ainda?) não cometeram, apenas baseadas no que procuraramm ou publicaram online. Este é um mundo mais seguro por causa disso, ou trocamos nossa liberdade por uma suposta proteção de um Big Brother moderno?

Câmera Escura

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