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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Zona de Interesse (The Zone of Interest, 2023)

 
Zona de Interesse (The Zone of Interest, 2023). Dir: Jonathan Glazer. Cinema, disse Martin Scorsese, é decidir o que está ou não dentro do frame. Às vezes, porém, o que não está também é importante. Neste filme de Jonathan Glazer a câmera faz o possível para olhar para o outro lado. Talvez seja a atitude de muitos alemães durante a 2ª Guerra Mundial?

A família de Rudolf Höss (Christian Friedel) vive em uma bela casa. Há uma piscina, um jardim florido, uma horta. A esposa, Hedwig (Sandra Hüller, a ótima atriz de "Anatomia de uma Queda"), tenta manter tudo limpo e organizado. As crianças brincam no jardim ou nadam em um rio próximo. Rudolf Höss é comandante do campo de concentração de Auschwitz, cujos muros fazem divisa com sua casa. De vez em quando, oficiais nazistas entram para discutir a construção de novos fornos ou outras questões logísticas. Höss descobre que vai ser transferido e fica preocupado com a reação da esposa. À noite, o clarão das chaminés ilumina os quartos.

Se não fosse um filme sobre o Holocausto, poderia ser o retrato de uma família comum. O pai, tentando fazer seu trabalho direito mas, também, atento à família (ele lê contos de fadas para as filhas todas as noites). A mãe, cuidando da casa e preocupada com a educação dos filhos. O cachorro tentando pegar a comida da mesa. Os empregados (judeus), limpando a casa e escutando broncas da patroa. Quanto mais comum, mais arrepiante. Glazer mantém a câmera quase sempre estática, o que aumenta a angústia. A imagem clara e límpida (direção de fotografia de Lukasz Zal), parece curiosamente atual; o filme não tem aquele "ar" de velho, da 2ª Guerra, o que deixa o filme ainda mais assustador. Só a trilha de Mica Levi, bastante estranha, tenta nos mostrar que algo está muito errado. "Zona de Interesse" está indicado aos Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado, som e melhor filme internacional. Muito bom. Nos cinemas.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

À Espera de Turistas

Auschwitz. A palavra evoca lembranças da II Guerra Mundial, de massacres, genocídio, câmaras de gás, morte. E, de fato, tudo isso aconteceu lá há aproximadamente 70 anos, em plena Europa. Mas como seria, hoje, o lugar que serviu de última morada a tantos prisioneiros judeus? Quem mora lá? Como se comportam jovens que nasceram muitos anos depois que estas coisas aconteceram? "À Espera de Turistas", de Robert Thalheim, responde a algumas dessas perguntas, mas deixa várias outras no ar.

Sven (Alexander Fehling) é um jovem alemão que, ao invés de servir o exército, preferiu realizar um ano de trabalho voluntário no exterior, terminando como o único voluntário em Auschwitz. Lá ele encontra uma cidade pequena e comum, habitada por jovens que, como em qualquer lugar do mundo, se divertem nas baladas; há também uma boa quantidade de idosos, e Sven é escalado para cuidar de Stanislaw Krzeminski (Ryszard Ronczewski), um sobrevivente do campo de concentração. O velho é ranzinza, mal humorado e não quer o rapaz por perto. Os amigos de Krzreminski brincam com o fato dele, um ex-prisioneiro do campo, ter agora um empregado alemão. Sven faz o que pode para lidar com o velho, e encontra consolo e romance em Ania (Barbara Wysocka), uma jovem guia turística. O fantasma do passado paira constantemente sobre o lugar, mesmo que o campo de concentração tenha se tornado atração turística e, assim como em Paris, nas bancas sejam vendidos cartões postais.

Quando uma indústria química local é comprada por uma empresa alemã, o velho Krzeminski é requisitado para dar palestras aos empregados. Por mais que ele tenha histórias importantes para contar, Sven percebe que o velho está sendo exibido pela empresa como mera curiosidade. Quando o Sr. Krzeminski é chamado para inaugurar um monumento ao holocausto em uma vila próxima, a Relações Públicas da empresa corta bruscamente o discurso dele. Mas não são só os alemães que se sentem desconfortáveis com o velho. O próprio museu não quer mais que ele trabalhe restaurando as antigas malas usadas pelos prisioneiros na época da guerra. Sven, aos poucos, vai mudando de opinião quanto à rabugice do Sr. Krzeminski e quanto aos próprios sentimentos com relação a Auschwitz.

Não é um filme amigável. O roteiro, do próprio diretor, não faz questão de ser empolgante. O personagem do rapaz não tem família, passado ou futuro; é uma incógnita. Isso pode ser visto como uma falha mas, por outro lado, torna sua transformação no final, ainda que tímida, ainda mais importante. A interpretação de Ryszard Ronczewski como o Sr. Krzeminski é muito boa. Um problema técnico atrapalhou a apreciação do filme; a cópia digital estava escura e com problemas evidentes de compressão, como em um vídeo de baixa qualidade. Este detalhe, mais a lentidão do roteiro, contribuíram para que a platéia não gostasse do filme. Mas é um filme interessante, embora frio, realista. Como diz o Sr. Krzeminski em uma cena, quem quer se emocionar com Auschwitz pode ver "A Lista de Schindler". Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.