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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Rush: No Limite da Emoção

Quarenta e dois dias depois de ter grande parte do corpo queimada em um violento acidente de Fórmula 1 e de ter passado por procedimentos médicos pesados (como enxerto de pele e limpeza do pulmão), o piloto austríaco Niki Lauda voltou às corridas. Seu objetivo: evitar que seu principal rival, o inglês James Hunt, vencesse o campeonato mundial de Fórmula 1 de 1976. Segundo Lauda, foram as imagens na TV de Hunt vencendo diversas corridas que o mantiveram vivo e com vontade de voltar a pilotar.

A história desta rivalidade é mostrada no filme "Rush", de Ron Howard ("Frost/Nixon", 2008). O filme transporta o espectador para a época em que as corridas de carros ainda eram tão "românticas" quanto perigosas, com a média de três pilotos mortos por temporada. Os carros não eram os computadores sobre rodas que existem hoje; eram tanques de combustível guiados de forma "analógica" por pilotos que tinham um tipo especial de loucura, uma paixão pelo perigo e pela velocidade que, muitas vezes, era fatal. A rivalidade entre pilotos sempre vendeu bem na Fórmula 1. Os brasileiros com mais de trinta anos se lembram dos duelos entre Nelson Piquet e Nigel Mansell pelo campeonato mundial de 1987 (vencido por Piquet) ou pela disputa acirrada entre Ayrton Senna e Alain Proust (mostrada no documentário "Senna"). Roward recria muito bem o clima da época, com direção de arte minuciosa e uma direção de fotografia (de Antonhy Dod Mantle, de "Quer quer ser um Milionário" e "127 Horas") que lembra a cor dos filmes em Super 8 dos anos 1970. Mas o principal acerto foi no elenco. Chris Hemsworth (de "Thor" e "Os Vingadores") está muito bem como James Hunt, um piloto tipo "playboy" que flertava com garotas, bebidas e drogas com a mesma intensidade com que gostava de pilotar automóveis. O espanhol Daniel Brühl está perfeito como o frio e metódico Niki Lauda; a semelhança com o piloto verdadeiro é impressionante, mesmo antes do acidente que distorceu seu rosto. O roteiro de Peter Morgan ("A Rainha", "360") repete a parceria com Ron Roward de "Frost/Nixon".



E há, claro, as corridas de Fórmula 1. A cena do desastre de Lauda em Nurburgring (vista no vídeo acima) foi recriada de forma idêntica pelos ótimos efeitos especiais do filme. "Rush" segue a tradição de grandes filmes de automobilismo como "Grand Prix" (1966) e "24 Horas de Le Mans" (1971), mas as câmeras (reais e virtuais) de Ron Howard e Anthony Dod Mantle não só nos colocam no cockpit do piloto como recriam toda uma época.

Câmera Escura

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Senna

Sexta-feira, 29 de abril de 1994, Grande Prêmio de San Marino, Itália. O jovem Rubens Barrichello voa em uma zebra durante o treino classificatório em um acidente espetacular, do qual sai ileso. No sábado, dia 30, Roland Ratzenberger não teve a mesma sorte. Um acidente grave custou-lhe a vida, e uma sombra negra pairou sobre o "circo" da Fórmula 1. Um dos mais afetados foi um brasileiro chamado Ayrton Senna da Silva, 34 anos, três campeonatos mundiais e um ícone do esporte. Ele havia trocado a equipe Mclaren pela Williams, não estava enturmado com a equipe de engenheiros e, o mais grave, não estava em paz com o carro. Mudanças no regulamento haviam proibido as inovações eletrônicas que haviam dado o quarto campeonato mundial a Alain Prost no ano anterior, e nem a habilidade de um piloto como Senna conseguiam manter a Williams na pista. No domingo, primeiro de maio, a tragédia.

O grande prêmio deveria ter sido suspenso devido à morte de Ratzenberger? Senna, inseguro, deveria ter desistido de correr? Se ele não tivesse saído da Mclaren, seu destino seria outro? Estas perguntas ficam na cabeça do espectador depois de assistir ao documentário "Senna", dirigido por Asif Kapadia para a produtora inglesa Working Title. O documentário é todo feito a partir de imagens de arquivo, em um ótimo trabalho de seleção e edição. Vozes em off completam o filme, com depoimentos da família de Senna e de pilotos e comentaristas da Fórmula 1, como Reginaldo Leme. Há cenas muito boas cedidas pela família ou recuperadas por televisões do mundo todo, muitas delas providenciadas pela Rede Globo. O arquivo pessoal da família mostra imagens de Senna muito jovem, em 1978, competindo de kart na Europa e já chamando a atenção do mundo. Senna diz que era competição pura, sem politicagens ou dinheiro, problemas que ele teria que enfrentar depois na F1.

Grande ênfase é dada ao relacionamento conturbado que Senna teve com seu companheiro de equipe na Mclaren, Alain Prost. O "professor", como era conhecido, era um mestre em tirar vantagem tanto do carro quanto na política envolvida no esporte. Em especial sua ligação com Jean-Marie Balestre, também francês, que dirigia a Federação Internacional de Automobilismo. Se o filme fosse feito no Brasil, provavelmente teria sido dado destaque também à relação não muito amigável entre Senna e Nelson Piquet. Os dois foram explorados pela imprensa como lados opostos da mesma moeda, Senna era o "bom" e Piquet era o "mau". Quando hoje se vê Rubens Barrichello, bom piloto mas simples pelego de equipes como Ferrari, que mandavam e desmandavam nele, é difícil lembrar como eram competitivos pilotos como Ayrton Senna e Nelson Piquet. Piquet podia não ser tão genial quanto Senna dentro de um carro, mas também foi tri-campeão mundial e era arrojado como ninguém. Senna acabou levando a fama de "bom moço", era muito mais acessível e ficou conhecido por seus trabalhos filantrópicos. Mas o documentário mostra que, nas pistas, ele também não era nenhum "santo". Após ter perdido o campeonato mundial para Prost em 1990, no Japão, após uma manobra discutível do francês e pela politicagem da FIA, Senna não teve dúvidas; no ano seguinte, jogou seu carro contra Prost, também no Japão, e venceu seu segundo campeonato mundial.

O que vemos em "Senna" é o retrato de um homem obcecado pela velocidade e pela vitória. É impressionante ver como os carros da sua época eram guiados realmente pelo piloto manualmente, e não por "controle remoto" dos boxes, como é praticamente feito hoje. O câmbio ainda era mecânico, por exemplo, e nas câmeras colocadas no carro podemos ver Senna "voando" pelas ruas estreitas de Mônaco, pilotando com a mão esquerda (ele era canhoto) e mudando as marchas com a direita. Pilotar era sua paixão e seu objetivo era vencer. O documentário traz cenas incríveis das ultrapassagens de Senna, seu trabalho de recuperação quando largava mal e feitos como quando venceu o Grande Prêmio do Brasil tendo apenas a sexta marcha funcionando.

Felizmente, o documentário não tenta endeusar o homem. As conquistas de Senna falam por si em imagens de suas vitórias dentro e fora das pistas. E, claro, quando ele está dentro da Williams, rosto triste e conturbado, esperando a corrida começar em Ímola, temos vontade de lhe dizer para sair do carro e ir para casa. Senna acabou sendo vítima da própria obsessão. Muito se fez para tentar culpar a equipe Williams, dos mecânicos ao próprio Frank Williams, pela morte de Ayrton Senna. Mas isso é bobagem. Quanto mais o carro o desafiava, mais ele tentava conquistá-lo. Senna morreu porque foi, até o último minuto, um piloto de corrida.