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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Violeta foi para o céu

A cantora chilena Violeta Parra conquistou fama internacional com a canção "Gracias a la vida", composta pouco antes da sua morte, em 1967. Mas Parra era mais do que cantora; foi também poetiza, tapeceira, pintora e ativista política. Quando, no filme, é chamada por um repórter de "uma mulher moderna", ela diz que, pelo contrário, é uma mulher primitiva.

"Violeta foi para o céu" é a cinebiografia da artista, dirigida por Andrés Wood com roteiro de Eliseo Altunaga, baseado no livro do filho de Violeta, Angél. A estrutura, não linear, cria várias rimas visuais e temáticas entre a infância pobre de Violeta, filha de um músico alcoólatra, com quem aprendeu a tocar violão, e as diversas fases de sua vida adulta. O filme recebeu prêmio especial do júri no último festival de "Sundance" e foi melhor filme, roteiro e edição no Cine Ceará.

Parra é interpretada com vigor pela atriz chilena Francisca Gavilán, que canta várias das canções da compositora. O filme usa uma entrevista de Parra dada à televisão chilena como fio condutor de sua vida, que teve tragédias como a morte de uma filha, ainda bebê, quando Violeta se apresentava na Polônia. Flashbacks mostram a delicada relação com o pai e seu primeiro contato com a música. A artista foi casada duas vezes, sendo a segunda com um flautista suíço chamado Gilbert Favre (Thomas Durand), 20 anos mais moço. É com Favre que Parra vai à Paris, onde realiza diversas apresentações musicais e, com as tapeçarias debaixo do braço, vai ao Museu do Louvre mostrar seu trabalho, que ganha uma exposição especial.

O lado político não é muito bem desenvolvido pelo roteiro. Apesar de se declarar tão comunista que, "se me cortassem, o sangue sairia vermelho" e de declarar à televisão que trocaria toda sua arte para ficar com o "povo", o filme a mostra como uma mulher individualista e possessiva. Há uma longa parte dedicada à instalação de uma tenda comunitária que Parra chama de "universidade do folclore" em uma região remota de Santiago; é lá que Parra faz apresentações e recebe artistas convidados, inclusive o grupo boliviano com o qual Gilbert Favre deixa o país, mas o experimento se revela um fracasso. Parra recusa o apoio do prefeito de Santiago, briga com Favre, com os filhos e termina sua vida de forma melancólica, sozinha e faminta. Apesar de um tanto depressivo, "Violeta foi para o céu" vale pela honestidade da interpretação de Gavilán e para se conhecer mais sobre a cultura latino americana. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

domingo, 1 de abril de 2012

Another Earth

E se, um dia, surgisse no horizonte um planeta como o nosso? E se, ao olhar pelo telescópio, descobrissem que o tal planeta não é apenas parecido, mas idêntico? Os mesmos continentes, mesmo tamanho, tudo. Seus habitantes seriam também iguais? Haveria, lá em cima, outro "você" olhando para o céu e imaginando a mesma coisa?

"Another Earth" é um filme independente escrito e dirigido por Mike Cahill, que também assina a direção de fotografia e a edição. O roteiro ele divide com a atriz do filme, Brit Marling, que interpreta Rhoda Williams, uma universitária que, no dia em que a "segunda Terra" é descoberta no céu, causa um acidente de carro que provoca a morte da esposa e do filho de John Burroughs (William Mapother), um compositor. Ela era uma moça brilhante, fascinada por astronomia, que fora aceita no MIT; com o acidente, ele  passa os próximos quatro anos de sua vida na prisão. Ao sair, desiste da carreira científica e se torna faxineira em uma escola para crianças. Ela não quer contato com ninguém, mas tenta pedir desculpas ao homem cuja família ela matou. John Burroughs, após a morte da esposa e do filho, se tornou um bêbado que mora em uma casa suja e bagunçada. Quando Rhoda aparece à sua porta, ela não tem coragem de dizer quem é e finge estar procurando serviço como faxineira, e começa a limpar a casa de John regularmente. Enquanto isso, a segunda Terra fica cada vez maior no céu e os cientistas começam a tentar contactar os supostos habitantes do planeta.

O filme é extremamente interessante e peculiar. Feito em digital, com baixo orçamento e atores desconhecidos (William Mapother, que interpreta John, era ator secundário na série "Lost"), "Another Earth" usa de uma premissa da ficção-científica para, de forma indireta, contar uma história dramática e cheia de significados. A vida de Rhoda e John muda drasticamente no dia em que a "Terra 2" aparece nos céus, e eles se tornam pessoas divididas pela dor da perda e pela culpa. É também curiosa a semelhança com "Melancolia", filme de Lars Von Trier que também fala do aparecimento de um planeta azul no céu e as consequências deste fato na vida de uma mulher. Há uma ótima cena em que uma cientista consegue contato pelo rádio com alguém no outro planeta e escuta, surpresa, a própria voz chamando do outro lado. "Another Earth" recebeu o prêmio especial do júri no Festival de Sundance em 2011 mas, infelizmente, não chegou aos cinemas brasileiros. É bem interpretado e bastante intrigante, apesar do final deixar um pouco a desejar. Vale conferir.

Câmera Escura

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Contracorrente

Em uma pequena vila de pescadores, no Peru, Miguel (Cristian Mercado) está casado com Mariela (Tatiana Astengo), que espera seu primeiro filho. É uma vila bem tradicional, com um padre, um bar e pequenas casas de frente para o mar. Uma figura distoa da paisagem, o pintor Santiago (Manolo Cardona), um rapaz alto, que anda pela vila bem arrumado, tirando fotos que usa para suas pinturas. O espectador descobre então que Miguel tem uma vida de aparências; o pescador, marido e futuro pai, na verdade, mantém um caso secreto com o pintor Santiago. Os dois se encontram em praias escondidas e Santiago, na verdade, está um pouco cansado de manter o romance em segredo.

"Contracorrente" é escrito e dirigido por Javier Fontes León, que conduz o filme com sensibilidade. O roteiro demora um pouco para engrenar, mas o começo expositivo serve para explicar uma reviravolta, com tons sobrenaturais, que ocorre em seguida. O que parecia ser "apenas" a história de um amor homossexual escondido, ganha contornos mais interessantes quando Miguel (e o espectador) descobrem que o pintor Santiago pode estar morto. Ele teria batido a cabeça em uma pedra, na praia, e seu corpo está perdido em alguma "contracorrente", no mar. Enquanto isso, seu "espírito" passa a aparecer para Miguel, que é o único que pode vê-lo. Isso causa uma situação interessante; Miguel, que não queria assumir sua identidade e muito menos ser visto em público com Santiago, passa a desfrutar de sua companhia o tempo todo, o que não deixa de ser conveniente; ele acredita poder manter seu "segredo" e seu casamento.

Tudo isso se passa em uma bela paisagem filmada na costa do Peru, em Cabo Blanco. O elenco é muito bom, principalmente Tatiana Astengo, que interpreta a esposa de Miguel como uma mulher forte e decidida a lutar pelo marido. A vida dos pescadores é mostrada de forma sensível e vemos seu modo de trabalhar e sua religiosidade. Como curiosidade, os moradores são fãs das telenovelas brasileiras. Em vários momentos eles estão vendo "Direito de Amar", produzida pela Globo. O roteiro, naturalmente, tem semelhanças com "O Segredo de Brokeback Mountain", mas o filme peruano é bem menos ambicioso e, talvez por isso mesmo, melhor resolvido. "Contracorrente" ganhou o prêmio de público no Festival de Sundance e foi o vencedor do Festival Mix Brasil em 2010.