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sábado, 10 de março de 2012

Tomboy

O dicionário Merriam Webster define "Tomboy" como "uma garota que se comporta de uma forma considerada masculina". Assim, não há muito o que esconder ao se escrever sobre um filme com este nome. Sim, "Tomboy" é sobre uma garota que se comporta como menino. O interessante é como, mesmo já tendo esta informação antes de entrar no cinema, você não deixa de se surpreender com a interpretação fantástica de Zoé Herán como o garoto "Michael". É necessário um vislumbre rápido do corpo de Herán em uma cena de banho para você se certificar de que se trata de uma menina. Mas este não é daqueles filmes engajados que normalmente são feitos por e para o público "mix". "Tomboy" é uma história contada com extrema sensibilidade pela diretora Céline Sciamma, responsável por algumas das melhores interpretações infanto-juvenis já vistas.

Uma família composta por pai, mãe grávida e duas crianças se muda para um calmo subúrbio francês. O pequeno conjunto de prédios é cercado por uma paisagem verdejante onde as crianças brincam como nos velhos tempos; há um bosque onde elas brincam de pega-pega, um campinho de futebol e um lago onde elas nadam tranquilamente. Nesta época de crianças super atarefadas ou grudadas constantemente no computador, chega a estranhar ver um cenário tão idílico. A menina mais velha se veste o tempo todo com bermudas, camisetas e tênis e só sabemos que é uma garota porque os pais a chamam de Laure. Para a vizinha pré-adolescente Lisa (Jeanne Disson), no entanto, Laure se apresenta como Michael, e é aceita como garoto por ela e por todas as crianças locais. Aos dez anos de idade, as características sexuais ainda não estão aparentes, de forma que Michael pode até jogar futebol sem camisa com os garotos sem levantar suspeitas. A irmã mais nova, Jeanne (uma pequena atriz maravilhosa), acaba entrando na "brincadeira" de Laure e fica até contente por ter um "irmão mais velho" que a leva para brincar com as outras crianças e a proteje dos garotos.

Quanto aos pais, o roteiro evita todos aqueles clichês que eram de se esperar de um filme como este. O pai é amoroso com as duas filhas e não se altera nem quando fica sabendo que Laure estava agindo como um garoto. Fica no ar a sensação de que a indefinição de gênero da garota não é novidade para a família, que já teria se mudado anteriormente por causa disso. A naturalidade com que Laure age como Michael é tamanha que a vizinha Lisa começa a se interessar por ele/ela. Há uma cena curiosa em que Lisa leva Michael para seu apartamento e começa a passar maquiagem nele. Mas é evidente que não são duas meninas brincando. Claro que a situação é uma bomba relógio. Uma hora ou outra a verdade virá à tona, até porque o período escolar está chegando e as crianças vão notar que não há nenhum "Michael" na lista de chamada. Novamente, a sensibilidade da diretora impede que a resolução seja "cinematográfica" e exagerada. Belo filme. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Contracorrente

Em uma pequena vila de pescadores, no Peru, Miguel (Cristian Mercado) está casado com Mariela (Tatiana Astengo), que espera seu primeiro filho. É uma vila bem tradicional, com um padre, um bar e pequenas casas de frente para o mar. Uma figura distoa da paisagem, o pintor Santiago (Manolo Cardona), um rapaz alto, que anda pela vila bem arrumado, tirando fotos que usa para suas pinturas. O espectador descobre então que Miguel tem uma vida de aparências; o pescador, marido e futuro pai, na verdade, mantém um caso secreto com o pintor Santiago. Os dois se encontram em praias escondidas e Santiago, na verdade, está um pouco cansado de manter o romance em segredo.

"Contracorrente" é escrito e dirigido por Javier Fontes León, que conduz o filme com sensibilidade. O roteiro demora um pouco para engrenar, mas o começo expositivo serve para explicar uma reviravolta, com tons sobrenaturais, que ocorre em seguida. O que parecia ser "apenas" a história de um amor homossexual escondido, ganha contornos mais interessantes quando Miguel (e o espectador) descobrem que o pintor Santiago pode estar morto. Ele teria batido a cabeça em uma pedra, na praia, e seu corpo está perdido em alguma "contracorrente", no mar. Enquanto isso, seu "espírito" passa a aparecer para Miguel, que é o único que pode vê-lo. Isso causa uma situação interessante; Miguel, que não queria assumir sua identidade e muito menos ser visto em público com Santiago, passa a desfrutar de sua companhia o tempo todo, o que não deixa de ser conveniente; ele acredita poder manter seu "segredo" e seu casamento.

Tudo isso se passa em uma bela paisagem filmada na costa do Peru, em Cabo Blanco. O elenco é muito bom, principalmente Tatiana Astengo, que interpreta a esposa de Miguel como uma mulher forte e decidida a lutar pelo marido. A vida dos pescadores é mostrada de forma sensível e vemos seu modo de trabalhar e sua religiosidade. Como curiosidade, os moradores são fãs das telenovelas brasileiras. Em vários momentos eles estão vendo "Direito de Amar", produzida pela Globo. O roteiro, naturalmente, tem semelhanças com "O Segredo de Brokeback Mountain", mas o filme peruano é bem menos ambicioso e, talvez por isso mesmo, melhor resolvido. "Contracorrente" ganhou o prêmio de público no Festival de Sundance e foi o vencedor do Festival Mix Brasil em 2010.