domingo, 20 de abril de 2008

Rescue Dawn (O Sobrevivente)


O diretor Werner Herzog é famosos tanto por seus trabalhos de ficção quanto por seus documentários. Há sempre uma linha tênue separando um gênero do outro. Quando ele embarcou para a Amazônia para filmar tanto “Aguirre” (1972) quanto “Fitzcarraldo” (1982) havia pouca diferença entre o que atores estavam passando na tela e o que a equipe estava sofrendo no set de filmagem. Há inclusive lendas de mortes ocorrendo entre as centenas de figurantes em ambos os filmes, e seu “alter ego” Klaus Kinski se entregava de corpo e alma aos papéis.

Herzog se juntou agora a Christian Bale, este jovem e talentoso ator inglês, que interpreta Dieter Dengler, um alemão que se naturalizou americano para pilotar aviões na Força Aérea. Dengler é enviado em uma missão secreta ao Laos em 1966, é abatido e colocado em um campo de prisioneiros. O curioso é que o primeiro filme de Bale, “Império do Sol” (1987), de Steven Spielberg, também tratava de um prisioneiro de guerra, o escritor J.G. Ballard, que passou alguns anos de sua infância em um campo de prisioneiros na China, na II Guerra Mundial. Curiosa também é a história que Dengler conta a seus companheiros, sobre o porquê dele ter se tornado piloto. Quando era criança, na II Guerra, Dengler viu um caça voando baixo em sua direção e disparando suas metralhadoras. Ele fez contato visual com o piloto e ficou fascinado: tinha que se tornar um piloto um dia. A história se parece muito com uma cena de “Império do Sol” em que o garoto Jim, fascinado por aviões, sobe em um dos prédios do campo e fica gritando e acenando para os caças americanos.

Escrito e dirigido por Herzog, “Rescue Dawn” (que tem o título bobo e revelador brasileiro “O Sobrevivente”) é um ótimo filme de prisioneiros que consegue ser bem sucedido em escapar dos clichês normalmente encontrados no gênero. Filmado na Tailândia, o filme é extremamente realista e o elenco está excelente. Bale é famoso por se entregar completamente a seus papéis, e de fato ele carrega o filme. Entre os outros prisioneiros que ele encontra no campo está Eugene (ninguém consegue fazer o papel de louco como o sempre fascinante Jeremy Davies) e o inseguro Duane (Steve Zahn), que estão presos há mais de dois anos. Oficialmente os americanos nem deveriam estar ali (a Guerra do Vietnam ainda não havia começado), então suas chances de libertação são pequenas. Dengler começa a bolar planos de fuga desde o primeiro dia, mas ele tem que esperar a chegada da época das chuvas e lidar com os guardas do campo (que têm apelidos como “Pequeno Hitler”, “Cavalo Louco”, “Walkie-talkie” e “Jumbo”), além da desconfiança de Eugene. Os vietcongs estão sempre tão famintos e desesperados quanto os prisioneiros, então há maus tratos e abusos, mas o filme não é sádico a ponto de ficar explorando muito isso. O plano de fuga é mostrado metodicamente e o suspense aumenta conforme a data marcada para escapar se aproxima. Enquanto isso, há cenas muito boas como a do aniversário de Dengler no campo, ou o ritual dos prisioneiros famintos de ficar descrevendo o que haveria dentro da geladeira ideal deles.

Como descrita por um dos personagens, a verdadeira prisão, na verdade, é a própria selva. Ela é tão fechada que em algumas cenas pode-se perceber a dificuldade dos atores (e da câmera) em cruzar poucos metros. Soube que Herzog já contou esta história na forma do documentário “Little Dieter Needs to Fly”, de 1997, que não assisti. Seria interessante poder comparar as duas versões, a “real” e a “ficção”. O final do filme, com os soldados em festa, me pareceu um pouco satírica. A Guerra do Vietnam começaria logo e duraria longos anos, custando a vida de milhares de jovens como Dieter, e milhões de asiáticos.
Trailer:

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