quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sete Vidas

"Deus criou o mundo em sete dias", diz Ben Thomas (Will Smith), "eu destrui o meu em sete segundos". Esta é uma das várias informações que o espectador recebe nos primeiros minutos de "Sete Vidas" (Seven Pounds, 2008), a mais nova colaboração entre o astro Will Smith e o diretor Gabriele Muchino. Os dois trabalharam juntos no bem sucedido "À Procura da Felicidade", e aqui retomam a parceria. O filme, deliberadamente lento, vai nos apresentando informações e situações que, perplexos, tentamos entender. Ben Thomas é visto em cenas aparentemente desconexas. Ele é cruel com um operador de telemarketing cego em uma cena para, em seguida, ser gentil e atencioso com uma senhora que está sendo maltratada em uma casa de repouso. Ele é visto como o diretor de uma empresa de engenharia aeronáutica, feliz, casado e bem sucedido, dirigindo um carro esporte. Em outra cena, ele se apresenta como um fiscal do imposto de renda. Ele encontra uma bela moça chamada Emily Posa (Rosario Dawson), que sofre de problemas cardíacos. Thomas diz que ela está passando por uma auditoria (o chamado "pente fino" do imposto de renda). Mas ele não age como um fiscal comum. Ele a visita no hospital, inconsciente; ele a segue pelos corredores; ele se oferece para levar o cachorro dela para passear. Por fim, ele lhe diz que ela terá uma "trégua" do imposto de renda por mais seis meses, livre de multa.

Quem é Ben Thomas, afinal? Algum tipo de "anjo" disfarçado? É alguém tentando simplesmente ajudar? Ele teria motivos ocultos? Há um ditado americano que diz que só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos. Ben Thomas parece, em alguns momentos, a personificação de ambos. "Sete Vidas" faz parte daquele gênero de filme destinado a fazer o espectador se emocionar. Há um bocado de gente passando por dificuldades, doente ou realmente morrendo, como é o caso de Emily. Grande parte da força do filme está no elenco. Will Smith é o tipo de astro que, se nem sempre chega a ser um grande ator, sem dúvida tem um carisma imenso. E Rosário Dawson está muito bem no filme. Dona de um corpo invejável, ela geralmente aparece em outro tipo de papel. Neste filme ela parece realmente frágil, como se qualquer esforço pudesse fazer seu coração parar de bater. E quando ela, naturalmente, acaba por se apaixonar por Will Smith, há algo de genuíno na relação entre os dois (ela, interessada; ele, reservado e assustado).

Mas o filme não é livre de percalços. Os enigmas da trama, que no início a deixavam interessante, com o passar do tempo (que é longo) começam a se tornar um problema. Sim, o espectador já entendeu que Smith sofreu algum tipo de trauma no passado, por que demorar tanto para revelar o que está acontecendo? A trilha sonora new age (de Angelo Milli) é onipresente a ponto de ser cansativa (embora haja um momento muito interessante, em que o piano propositalmente toca as notas erradas, representando o problema cardíaco de Emily). E o final, francamente, não faz muito sentido. Sim, a "mensagem" pode ser edificante, mas os métodos, além de não serem muito verossíveis, chegam a ser moralmente questionáveis. Para complicar, como o filme é destinado ao público americano médio (que precisa de tudo mastigado), há ainda uns dez minutos além do final para que se tente explicar tudo nos mínimos detalhes. O final, se explica algumas coisas, deixa outras questões em aberto. Com o cuidado para não revelar muitos detalhes, mas a pergunta que fica é como seria possível a Ben Thomas organizar tudo daquela maneira? Saber a quem se destinaria realmente cada "presente"? Não haveria outras maneiras de se "fazer o bem"?

Assim, como mensagem, o filme tem pontos válidos. Mas não se pode raciocinar muito.


4 comentários:

Anônimo disse...

Olá João,

Esta é a minha primeira visita ao seu blog e gostei bastante.

Não sou fã do Will Smith, logo produções com ele nunca me chamam a atenção. Os únicos trabalhos dele que vi foi "À Procura da Felicidade" e "Ali".

Porém, depois que li seu texto, fiquei "encucada" e com vontade de assistir ao filme.

Beijocas
Mari - Poucas e Boas da Mari

João Solimeo disse...

Tudo bom, Mari? Obrigado pela visita. Will Smith tem coisas bem legais (como os filmes que vc citou, apesar de achar Ali falho) e lixos como Bad Boys. Ficou encucada? Hehe....depois que você vir o filme então venha cá e diga o que achou.

Visitei seu site também, muito bom.
Feliz 2009

Jean Javarini disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Danilo Balu disse...

Olá João! Primeira visita aqui porque estava procurando um artigo mto legal que li sobre o Smith... daí parei aqui no seu blog.
O Smith é meu Obama, sabe? Acho ele histórico mesmo antes de ver o filme! rsrsrs
Fui ver o 7pounds e acho que dramaticamente ele mantém o nível que teve em Ali, "Eu sou a Lenda" e "Em Busca da Felicidade".
Confesso que achei a mesma coisa sobre o que vc escreveu. 100%! Smith dramaticamente não é excepcional, mas cumpre seu papel. Ele, sim, é MTO carismático. Acho que por isso que digo que é o meu Obama. Não à toa vejo todos os filmes dele, coisa reservada a poucos atores.
Estou escrevendo um texto sobre o filme/Smith porque confesso que me emocionei caindo em todos os truques sujos do diretor...
Sou um louco por cinema e tenho meu blog escrevendo sobre comportamento e sempre arrisco algo sobre cinema. Como não tenho formação, caso vá lá e clique em cinema, por favor, veja aos olhos de um leigo rsrsrs
Mesmo achando o Will Smith ainda limitado, ele vem surpreendendo porque vem fazendo coisas de um modo diferentes como nos 3 filmes que disse ou no Hancock que é um filme difícil de classificar... comédia? ação? drama?

Saudações cinematográficas!
Danilo Balu
http://www.baluzao.com