domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dúvida

A Irmã Aloysius (Meryl Streep) vê "monstros" em todo lugar. Diretora do colégio católico St. Nicholas, no Bronx, Nova York, ela vigia a todos com olhar de falcão, em busca de "irregularidades". Uma menina é punida por usar uma presilha no cabelo; um garoto é castigado por ter simplesmente tocado no braço de uma freira. Ela é contra uma canção de natal sobre um homem de neve que ganha vida sob a alegação que se trata de "bruxaria". É o ano de 1964 e os Estados Unidos e o mundo estão passando pelas mudanças culturais dos anos sessenta. Não na opinião da Irmã Aloysius, que diz que "não há nada de novo sob o Sol". O filme "Dúvida" levanta a questão: poderia uma mulher como ela, propensa a ver pecado em todo lugar, estar certa a respeito do Padre Flynn?

Interpretado por Philip Seymour-Hoffman, o Padre Flynn é o contrário da Irmã Aloysius. Ele é querido pelos alunos, a quem ensina coisas tão diferentes quanto basquete ou o que fazer quando todas as garotas do baile se recusarem a dançar com você: "Você vira padre!", diz ele, com um sorriso no rosto. Ele está sempre tendo idéias para seus sermões, e as anota em um caderninho que carrega consigo. Na abertura do filme, nós o escutamos dizer que a dúvida pode ser uma ligação tão grande entre as pessoas quanto a certeza. Um dia a Irmã James (Amy Adams), que é professora de História, recebe um chamado do Padre Flynn. Ele quer ver Donald Miller, o único aluno negro da escola, em particular. Para a Irmã Aloysius, esse fato já é o suficiente para que uma grave acusação se forme.

O filme é escrito e dirigido por John Patrick Shanley (baseado em sua própria peça) e é claramente um filme de atores. Falar bem de Meryl Streep (indicada novamente ao Oscar de Melhor Atriz) e Philip Seymour-Hoffman pode parecer redundante, mas os dois estão perfeitos. Ambos colocam nuances e sutilezas em suas interpretações que, dependendo da questão (ou "dúvida") levantada pelo filme, nos levam a ver seus personagens de forma diferente. Seria a Irmã Aloysius assim tão má? O Padre Flynn é perseguido injustamente ou seu comportamento é sim sinal de que seja um pedófilo? Amy Adams, como a jovem e inocente Irmã James, também merece elogios. Colocada entre o padre e a diretora da escola, Adams constrói uma personagem ingênua que tem sua fé e seu prazer em dar aulas colocados em cheque. É interessante que o roteiro a coloque justamente como a pessoa que levante a dúvida sobre o Padre Flynn. Dúvida que é forte o suficiente para que ela leve o caso até a Irmã Aloysius, mas não o bastante para que ela o considere realmente culpado.

"Dúvida" é algo que não tem vez na religião católica tradicional. Foi a dúvida que deixou Moisés de fora da Terra Prometida. O tempo e as mudanças no mundo acabaram forçando a própria Igreja a questionar certezas inabaláveis como a da Irmã Aloysius. Mas e se, contra todas as evidências, ela estiver certa?


2 comentários:

Luis Corvini Filho disse...

Realmente, um filme intenso, complexo, e que deixa a "dúvida" no ar.

Não há "dúvida" apenas que realmente vale a indicação para 4 oscars "nobres". Caso ganhem, todos serão justos, sem sombra de "dúvida".

Estou em "dúvida". Terei eu comentado de modo muito exageradamente "duvidoso"? hehehe.

Parabéns João. Precisando de um colega para ir no cinema, estamos aí! (Melhor que enchendo o saco na edição, não é?)

Abraços

Luis Corvini Filho

João Solimeo disse...

Bom o filme mesmo, não? O elenco é excelente. Difícil vai ser arrumar tempo pra ver filme na minha fase "back to school"...ehe.

Abraço.