sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Casamento Silencioso

Eis um daqueles filmes raros, inteligentes, bonitos, instigantes, bem feitos. "Casamento Silencioso" é uma produção da Romênia, com direção de Horatiu Malaele, que também assina o roteiro em parceria com Adrian Lustig.

Em 1953, um pequeno vilarejo romeno acompanha com misto de apreensão e diversão o relacionamento apaixonado de Iancu (Alexandro Potocean) e Mara (Meda Andreea Victor). Os dois fazem amor nos campos de milho, na floresta, no celeiro, em todos os lugares, e seus pais gostariam que eles se casassem de uma vez. No horizonte, tanques soviéticos podem ser vistos fazendo manobras e, na floresta, uma estranha moça lança uma maldição sobre o casal. Quando os dois finalmente decidem se casar, uma grande festa é preparada, com muita comida e bebida. Só que, no dia da festa, oficiais soviéticos aparecem para ordenar que tudo seja parado. Joseph Stalin, que comandou a União Soviética de 1922 até 1953, havia morrido e um luto oficial de sete dias foi decretado. A festa de casamento estava proibida, sob pena de morte. O que se segue é das cenas mais hilariantes do filme, quando todo o vilarejo resolve se reunir à noite para celebrar o casamento da única forma possível, ou seja, silenciosamente. O diretor leva a sequência ao nível do absurdo, com brindes feitos com copos embrulhados em panos e uma banda que, animadamente, apenas finge tocar.

A sequência do "casamento silencioso" do título é ótima, mas todo o filme é permeado de situações que variam entre o absurdo e o sublime. Quando o Partido Comunista exige que um filme seja exibido no vilarejo, a luz elétrica tem que ser improvisada com um dínamo de bicicleta, operada pelo "inventor maluco" da cidade. Enquanto o filme de propaganda comunista é exibido na tela, toda a platéia do vilarejo solta gargalhadas com outro espetáculo involuntário: o prefeito da cidade, simpatizante dos soviéticos, se atrapalha com um grupo de comandados que, em câmera rápida, parecem interpretar uma cena cômica de um filme mudo. O clima de pastelão muda para a entrada poética de um grupo de circo na cidade, à noite, com as tochas dos malabaristas iluminando a todos. Pode-se sentir a presença do italiano Federico Fellini em momentos como este. O romeno Horatiu Malaele mostra grande habilidade para criar situações que passam pela comédia, pelo romance, pelo drama e até mesmo pelo sobrenatural. De forma poética e metafórica, "Casamento Silencioso" mostra como a Romênia, por anos, foi silenciada pelo regime comunista. Belo filme.

Um comentário:

Carol disse...

Excelente filme...recomendado...

bjos