terça-feira, 12 de julho de 2011

Os 3 (Festival de Cinema de Paulínia)

O diretor Nando Olival, em seu discurso antes da exibição de "Os 3" em Paulínia, disse que o filme era como um "jazz", em que cada um colocava uma nota. O resultado, infelizmente, está mais para um samba do crioulo doido.

"Os 3" conta a história de três jovens que, após se conhecerem em uma festa no início da faculdade, resolvem morar juntos. Claro que a situação de um triângulo amoroso está longe de ser a ideal, porque alguém sai perdendo. Camila (Juliana Scalch) até parece atenta a este detalhe e, em uma cena em que os três estão tomando banho na "piscina" do prédio (uma caixa d´água abandonada), ela institui uma regra: eles nunca deveriam se envolver. A premissa, interessante, até promete um filme potencialmente ousado, apesar de previsível. O problema é que o roteiro do próprio diretor (em parceria com Thiago Dottori) atira para todos os lados, e os três jovens vivem em um mundo completamente alheio à realidade. Uma locução em off de Rafael (Victor Mendes), o lado mais "sensível" do triângulo, compromete o filme por soar artificial e, o pior, contradizer as imagens em vários momentos. Por exemplo, uma montagem mostra os amigos se divertindo, recebendo namorados, fazendo festas etc, enquanto a narração de Rafael diz que a "regra" os manteve como amigos pelos quatro anos de faculdade. No plano seguinte, no entanto, os três são mostrados passeando em uma lancha e Casé (Gabriel Godoy) e Rafael estão se perguntando se a "regra" seria para valer mesmo. O narrador não acabou de estabelecer que sim? Por que os personagens ainda estão debatendo o assunto?

Para complicar, o que começa como um filme sobre três amigos na faculdade, de repente, se transforma em outro; um projeto dos três na faculdade atrai a atenção de um investidor. A idéia, originalíssima, é a seguinte: e se câmeras fossem instaladas no apartamento dos três e o público pudesse ver pela internet tudo o que eles fazem, 24 horas por dia? Novamente, em que mundo é passado este filme? Após 11 edições do "Big Brother Brasil" e similares, por que esta é apresentada como uma idéia nova? Na verdade é apenas uma cortina de fumaça do roteiro para dar lugar a cenas supostamente ousadas entre os três no apartamento. Há várias situações que não fazem sentido; uma senhora (contratada por eles mesmos para aumentar a audiência) aparece dizendo que é dona do apartamento e quer que eles deixem o local. A siutação é interessante, como eles vão resolver esta farsa diante do público? A trama, no entando, é simplesmente esquecida. Em outro momento, uma suposta prima de Camila aparece no apartamento dizendo que precisa de um lugar para morar. Novamente, não faz o menor sentido. Se o programa dos três é realmente o sucesso que o filme diz, eles deveriam ser famosos e conhecidos. Como é que esta "prima" não sabe de nada? Mesmo que ela faça parte da farsa, o público não iria questionar? Onde está este público? Qual a consequência do sucesso dos três? Aparentemente, nenhuma. Não há um jornalista ou fã que se interesse o suficiente para ir procurá-los no apartamento e, fora dele, eles não são reconhecidos. O filme quer que o público acredite que este sucesso está sendo gerenciado por dois senhores e seu neto, em uma agência de publicidade.

Assim, "Os 3" não sabe direito a que veio. É tecnicamente bem feito, com bela fotografia do craque Ricardo Della Rosa (que é co-produtor) e montagem afinada de Daniel Rezende. Os três jovens são bonitos (embora maus atores) e o filme não perde a oportunidade de expor seus corpos para as cores publicitárias da palheta de Della Rosa. Mas não há desenvolvimento ou profundidade. Situções são criadas para serem abandonadas em seguida. De qualquer forma, o filme foi muito aplaudido ao final da exibição, tem o apoio dos estúdios Warner e pode se tornar um sucesso.


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