
Zwick está na direção agora de "Um ato de liberdade" (Defiance, 2008), em que retrata a resistência russa diante da invasão nazista em 1941, na II Guerra Mundial. Curiosamente, há algumas semanas passou em Campinas "Katyn", de Andrzey Wajda, também enfocando os russos na II Guerra Mundial, e está em cartaz "Falsários", outro drama a respeito da guerra. Sem falar em "Milagre em Santa Anna", de Spike Lee. Será que depois de tantos anos de guerras inglórias e injustas como a do Iraque o cinema está com saudade dos tempos mais "honrosos" da II Guerra?
"Um ato de liberdade" conta a história dos quatro irmãos judeus da família Bielski, Tuvia (Daniel Craig), Zus (Liev Schreiber), Asael (Jamie Bell) e Aron (George MacCay), que tiveram os pais mortos pelos nazistas e, se refugiando na floresta, se tornaram ponto de referência e a salvação de centenas de refugiados. O cabeça do grupo é o justo e controlado Tuvia (Craig, em bom trabalho) que tenta controlar o temperamento quente do irmão Zus (Schreiber, curiosamente repetindo o papel de "irmão complicado" que fez em "Wolverine"), que só pensa em vingança e em fazer os alemães pagarem na mesma moeda. Escondidos nas florestas da bielorússia, os irmãos se tornam guardiães de um grupo cada vez maior de refugiados judeus que, fugindo dos guetos, lutam para sobreviver ao frio e à fome. Como acontece com praticamente todo filme americano que trata de estrangeiros, os atores usam do recurso de falar com um sotaque russo nem sempre convincente. Em outras sequências, no entanto, eles se comunicam em russo, com legendas em inglês. Não entendi muito o critério para a escolha desses momentos (estaria Zwick simulando a situação de que os judeus se comunicavam entre si com uma língua e em russo com os não judeus?).
A bela fotografia é do português Eduardo Serra, que já trabalhou com Zwick em filmes anteriores. O impiedoso inverno russo é filmado em belas tomadas em que o branco da neve contrasta com o sangue da guerra e com a desolação dos refugiados que, famintos, não sabem o que é pior: o frio e a fome ou enfrentar os nazistas. O roteiro (de Zwick e Charles Frohman) é baseado em uma história real e o filme, felizmente, vai melhorando conforme se desenrola. Os refugiados têm que passar por dilemas morais e sobre decisões de vida e morte provocadas pela guerra. A diáspora judaica encontra ecos na história de Moisés e a libertação dos escravos no Egito. A trilha sonora de James Newton-Howard me lembrou seu ótimo trabalho em "A Vila", pelo qual foi indicado ao Oscar.