segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

O filme tem uma premissa interessante, que já foi inclusive tema de um comercial do qual me lembro, anos atrás, em que Chico Anísio descrevia uma vida ao contrário; deveríamos nascer velhos e crescer cada vez mais jovens, até voltar ao útero materno. Não haveria a suposta decadência da velhice, pelo contrário, ficariamos cada vez mais em forma, menos enrugados, mais "bonitos". Também me lembro do comediante americano Jerry Seinfeld dizendo que o primeiro e o último aniversário das pessoas é bem parecido; não sabemos direito o que está acontecendo, a festa é preparada pelos outros e, provavelmente, estaremos usando fraldas.

O Curioso Caso de Benjamin Button parte desta premissa. Benjamin (Brad Pitt) é um homem que nasce um bebê "velho" e enrugado. Os ossos estão fracos, os olhos apresentam catarata, todos os sintomas de um idoso de 80 anos. A mãe morre no esforço de dar à luz esta estranha criança e o pai, atormentado, abandona o bebê em uma casa que cuida, justamente, de pessoas idosas. Ele é adotado por uma mulher negra chamada Queenie (a ótima Tarji P. Henson). Ela considera o bebê milagroso e resolve tomar conta dele da mesma forma com que ela trata dos outros habitantes da casa: todos idosos em processo de decadência física e mental. Só que o pequeno Benjamin está no caminho contrário, se tornando mais jovem a cada dia.

O filme é passado no sul dos Estados Unidos e tem vários bons momentos, além de um elenco composto por Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton e Julia Ormond. O diretor é David Fincher, conhecido por filmes pesados e psicológicos como Se7en, Clube da Luta e Zodíaco. Fincher também é famoso como um técnico competente, que experimenta com novas tecnologias e efeitos especiais. "Benjamin Button" é recheado de efeitos digitais que recriam várias épocas da história americana e, de forma extraordinária, dão uma ajuda ao trabalho de maquiagem de envelhecer ou rejuvenescer os atores. Brad Pitt, especialmente, é mostrado desde os 80 anos até a juventude, e imagino que uma grande quantidade de "magia" digital foi empregada para transformá-lo diante dos olhos da platéia. O filme, visualmente, é plasticamente bonito e interessante de se ver.

O problema é que para cada virtude há uma quantidade considerável de problemas. O roteiro é o maior deles. Para começar, é muito, mas muito parecido com "Forrest Gump", que Robert Zemeckis realizou em 1994, escrito pelo mesmo roteirista, Eric Roth. Este video mostra claramente as incríveis semelhanças entre os dois projetos. Tanto Benjamin Button quanto Forrest Gump são crianças com um problema, criados por uma mãe solteira no sul dos Estados Unidos. Ambos conseguem superar as dificuldades (inclusive de locomoção) e se apaixonam por uma amiga, loira, de infância. Ambos crescem e vão para a guerra, e depois passam um tempo em um barco. Ambos têm um amigo negro e depois um amigo bêbado e revoltado. Ambos saem de casa e viajam pelo mundo... e assim por diante. E não só isso, os dois filmes foram feitos por diretores conhecidos pelos seus filmes de efeitos especiais (Zemeckis e Fincher) que resolveram apostar seu talento em um filme tocante e sensível sobre uma "pessoa especial". Forrest Gump ganhou 6 Oscars; Benjamin Button está com 13 indicações ao prêmio.

E os problemas não param por ai. Para poder contar a história de Benjamin em flashbacks o roteiro criou o estratagema de começar a história no passado recente, durante a passagem do furacão Katrina pelo sul dos Estados Unidos. Daisy (Cate Blanchett), está praticamente morrendo em uma cama de hospital assistida pela filha Caroline (a bela Julia Ormond, cujas rugas mostram, mais do que qualquer coisa no filme, o verdadeiro poder do tempo). Mesmo agonizando, a velha senhora consegue arrumar forças para contar o tal caso "curioso" de Benjamin Button, convenientemente auxiliada pelo diário do próprio mais uma série de fotos e documentos que aparecem, como mágica, da bagagem dela. Esta trama paralela é até mais difícil de acreditar do que o estranho "milagre" da vida de Button. Como, e por que, a mãe conseguiria guardar tantos segredos de sua vida para a própria filha? Como ela teria organizado toda aquela "apresentação" com as fotos, o diário, as anotações, agonizando em uma cama de hospital? Para quem o narrador, o próprio Benjamin Button, está contando a história? Para Caroline? Então porque ele muda a pessoa narrativa (de terceira pessoa para primeira pessoa) em determinado ponto do filme?

Assim, O Curioso Caso de Benjamin Button, apesar dos bons momentos e do belo visual, acaba resultando em um filme interessante, mas nada original.

7 comentários:

Unknown disse...

estava esperando sua avaliação do filem João.
Concordo em partes com suas afirmações, mas outras discordo.
Bom. MInha opinião. Muito além do roteiro e da fotografia e mesmo música...acredito que o filme vale muito pela reflexão que se propõe. Várias vezes durante o filme tive a sensação (ou a vontade) de tentar contr minha história ao ocntrário, ou ao menos tentar revivê-la em pensamentos ao contrário. Talvez o filme nos ajude a pensarmos o valor da vida. Dos momentos e dos amores. A valorizar as experiências e as diferenças. Eu acreditoq o filme realmente mereça as indicações q teve. Espero que venha a conquistar alguns prêmios. A fotografia do filme, em determinados momentos, é ótima. Bom, escrevi demais... mas finalizo indicando pra quem não viu, que veja.
abraços João
até mais

e passe pelo falaguri.blogspot
falowww

João Solimeo disse...

Tudo bom, Fachini?

Como disse, o filme tem bons momentos, e a idéia inicial é ótima. Há sim espaço para várias reflexões, como....será que faz tanta diferença assim nascer "ao contrário?". No fundo, não, porque é no início e no final da vida que estamos mais frágeis, mais dependentes dos outros. Pelo que li por ai, no conto original Benjamin nascia um velho mesmo (e não um bebê velho), que sabia ler inclusive, e depois foi desaprendendo.

Creio que todas estas reflexões estão no filme. Só acho que o filme não deixa muito espaço para pensar. É tudo mastigadinho, explicado por dois narradores diferentes que, inclusive, não param de falar um minuto (um colega meu disse que Hollywood não só acha o espectador burro, mas cego também...dá pra fechar os olhos e escutar o filme inteiro). Ultimamente tenho tido problemas com filmes que tentam explicar TUDO para o espectador (como Sete Vidas).

Mas é um filme bonito sim, bem feito, com ótimo elenco.

Abraço!

Cinestesis disse...

Opa, gostei dos comentários, estou tentando analisar os roteiros dos candidatos ao Oscar, até o momento gostei bastante do Frozen River, que ao meu ver tem tudo para levar a estatueta. Concordo com vc em vários aspectos sobre o filme ( e roteiro do CCBB). Aguardo para ver os próximos comentários.

Abraço

Menina de lah disse...

João,

Concordo contigo em vários aspectos.
Mas sabe o que eu achei estranho? Aquela sequência final(que não deixa de ser linda)na se RESPONDE "Qual a nossa função aqui, no mundo?" Alguns nascem para ser artistas, outros para ser mãe....
Não encontrei similaridade entre toda a linguagem do filme e essa sequência. Apesar de linda, a narrativa dessa parte do filme, me pareceu desconexa. Como se fosse uma colagem.
Não sei se consegui me explicar. Saí do cinema com cara de "Ué".

Beijo

João Solimeo disse...

(SPOILERS, não leiam, detalhes do final do filme)

Então, Cleide, realmente aquele clipe final tem gente chamando de "comercial de cartão de crédito", ou de banco Itaú. Creio que tenha sido um modo de terminar o filme em "alto astral", depois da morte dele e da mulher no hospital.
Muito se discute também sobre a função de citar o furacão Katrina no filme...para quê? Para dar um ar mais sério? Mais atual? Me pareceu meio desnecessário.

bjo

Anônimo disse...

Fui ver o "Curioso Caso de Beijamin Button", vamos dizer que o filme realmente tem qualidades boas, cenas bacanas, otima produção e algumas cenas bem dirigidas. Mas, a estória não me conveceu muito. Tem dois trechos do filme, que é bastante esticado, que parece que estão lá para encher lingüiça. Aquele lance do relojoeiro e o filho perdido na guerra e a estória do acidente em Paris da Dayse (Cate Blanchett), são inúteis.
O pessoal tem falado do lance do filme ser meio parecido com o "Forrest Gump". Na verdade, tem algumas coisas a ver, mas achei bem mais parecido com PEIXE GRANDE (Big Fish) do Tim Burton. Alias, o Tim Burton poderia ter dirigido este filme, não que o David Fincher seja um diretor ruim, ele é ótimo, mas o filme não tem cara de David Fincher. Quanto ao elenco, a Cate Blanchett está ótima,como sempre segura o filme nas costas, mas o Brad Pitt não foi uma boa escolha, acho que o Jonnhy Deep faria o Benjamin Button melhor. Julia Ormond, fazia anos que não via ela. Ela era a nova Julia Roberts, e sumiu do mapa. Tá velha e acabada. Ela era linda, mas nunca achei ela boa atriz, só um rostinho bonito. Nota 6,5

Daniel Serrano disse...

fala, joão, parabéns aqui pela casa. também não achei o BB lá essas coisas que têm dito, daí vir eu aqui comentar. não acha que tem nele algo excessivo de melodrama, com velhinha à Titanic e tudo? Corta-se a velhinha e enxuga-se o filme, deixando-o, além disso, mais forte.
Quantos às partes inverossímeis, não veria tanto problema não fosse a chatice que elas representam. o dossiê da velhinha é, sim, pouco verossímel; mas é, antes de tudo, chato. haha. daí a ruindade.

bom, manterei minhas visitas.

abraço.