sábado, 21 de janeiro de 2012

O Espião que Sabia Demais

Nem James Bond ou Ethan Hunt podem ser vistos no ambiente esfumaçado da central de Inteligência britânica. No lugar de agentes impecáveis e de boa aparência, o que se vê são homens gastos pelo tempo, cheios de rugas e desconfiados da própria sombra. Este é o mundo da espionagem mostrado em "O Espião que Sabia Demais", baseado em livro do escritor John Le Carre. São os anos 70, na Inglaterra, em plena Guerra Fria. Uma série de vazamentos de informações sugerem que há um traidor dentro do serviço secreto inglês, alguém da alta cúpula. Após uma operação desastrosa em Budapeste, em que um agente britânico é baleado e aparentemente morto, o Primeiro Ministro pede a cabeça de Control (John Hurt), o chefe de operações do serviço secreto, e de seu principal aliado, o agente George Smiley (Gary Oldman). Control morre misteriosamente em seguida, e Smiley é chamado pelo Primeiro Ministro para investigar, agora de fora das operações, os principais agentes britânicos na ativa, todos suspeitos de serem o traidor. São eles Bill Haydon (Colin Firth, de "O Discurso do Rei"), Roy Bland (Ciáran Hinds), Percy Alleline (Toby Jones) e Toby Esterhase (David Dancik).

Dirigido com extrema competência por Tomas Alfredson (diretor sueco conhecido por "Deixe ela entrar", 2008), "O Espião que Sabia Demais" é um ótimo thriller de espionagem. A trama é apropriadamente complicada, deixando a maioria dos espectadores menos atentos perdida. Este não é um filme de perseguições em alta velocidade ou tiroteios como em uma aventura de Jason Bourne; é uma obra lenta, lapidada cena a cena e lidando com um mundo em que a desconfiança faz parte do dia-a-dia. Gary Oldman,  54 anos, foi envelhecido para o papel e está extremamente comedido, diferentemente de seus papéis habituais. George Smiley é um enigma. É gentil e calmo em suas investigações; é o tipo de pessoa a quem os outros sabem que podem confiar um segredo, e a trama se desenrola através de várias narrações e flashbacks. A recriação de época é precisa e o espectador se encontra em um mundo diferente do de hoje. Um mundo em que pessoas mais velhas tomavam as decisões (certas ou erradas), um mundo essencialmente masculino. Há apenas um papel feminino de mais destaque, Irina (Svetlana Khodchenkova), que é a esposa de um possível desertor russo. As outras mulheres são vistas de passagem; são secretárias, funcionárias, esposas, amantes, e a mulher de um dos agentes acaba tendo uma importância surpreendente na trama, apesar de quase nem ser vista.

A fotografia é do suíço Hoyte Van Hoytema (que também fotografou "O Vencedor", 2010), em tela larga que mostra locações em Londres, Budapeste e Istambul. A trilha é do preferido de Almodóvar, Alberto Iglesias. Um filme cheio de nuances e de pequenas pistas deixadas pelo roteiro complicado de Bridget O´Connor e Peter Straughan, que não perdoa espectadores desatentos. "O Espião que Sabia Demais" é bom cinema, com destaque para o elenco acima da média.


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