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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos, 2021)

Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos, 2021). Dir: Aaron Sorkin. Amazon Prime. O roteirista e diretor Aaron Sorkin conta uma semana na história de um dos maiores sucessos da TV americana de todos os tempos, a série "I Love Lucy" (1951-1957). Estrelada por Lucille Ball (Nicole Kidman) e o marido cubano, Desi Arnaz (Javier Bardem), "I Love Lucy" tinha 60 milhões de espectadores por semana (um sucesso tem hoje, no máximo, 15 milhões). Sorkin fez muito sucesso como roteirista de TV (Newsroom, The West Wing) e cinema (A Rede Social, Steve Jobs) e recentemente se tornou diretor também (Os 7 de Chicago).

"Apresentando os Ricardos", de forma proposital ou não, tem um visual bastante televisivo. Nicole Kidman, que geralmente é boa atriz, tenta aqui passar alguns dos maneirismos de Lucille Ball, mas seu rosto parece uma máscara. Javier Barden, ótimo ator, não se parece em nada com Desi Arnaz, embora consiga passar o carisma e o lado mulherengo. O roteiro lida com várias tramas: Lucy é acusada por um jornalista de ser comunista; na época, isso era o equivalente a ser "cancelado". Em uma trama paralela, uma revista de fofocas publica uma matéria sobre a suposta infidelidade de Desi Arnaz, o que deixa Lucy ainda mais nervosa. Para completar, Lucy revela que está grávida, o que também pode complicar o futuro da série.

Todas estas tramas são interpretadas com os diálogos rápidos de Sorkin e ilustradas com vários flashbacks. O lado de "making off" é bem interessante; vemos como cada dia da semana era dedicado a uma atividade (leitura do roteiro, marcação de atores, ensaio técnico, etc) que finalizava com a filmagem do episódio na sexta feira. Kidman interpreta Lucille Ball como uma mulher extremamente detalhista e que lutava por cada palavra e ação do roteiro. Não sei como ela era na vida real mas, para o retrato de uma das mulheres mais engraçadas da TV americana, achei a interpretação pesada. Vale para quem é fã dos bastidores de uma produção, pela recriação de época e outros detalhes técnicos. O elenco ainda conta com J.K. Simmons, no segundo filme com ele que assisto em seguida. Disponível na Amazon Prime.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Último Dançarino de Mao

Vencedor do prêmio de público na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2009, só agora "O Último Dançarino de Mao" chega a Campinas. O filme tem produção australiana e conta história real do dançarino chinês Li Cunxin (Chi Cao) que, nos anos 80, abandonou a República Popular da China para viver nos Estados Unidos.

Dirigido por Bruce Beresford ("Conduzindo Miss Daisy", 1989), o filme começa com a chegada de Li a Houston no início dos anos 80 e conta sua história através de flashbacks. Sexto filho de uma família de sete crianças, Li era um "filho da revolução" comunista de Mao Tsé Tung (1893-1976). Ele vivia com a família no interior rural da China quando foi recrutado por Pequim para ser treinado como dançarino. Lá ele foi alfabetizado e tinha uma alimentação melhor que a da família; em troca, passou anos treinando balé clássico. Sua grande chance aconteceu com a visita cultural de membros do Balé de Houston, chefiados por Ben Stevenson (Bruce Greenwood), que gostou de Li e conseguiu uma autorização para que o chinês passasse três meses nos Estados Unidos. Em plena Guerra Fria, Li cresceu acreditando que os Estados Unidos eram a terra da perdição. Há uma cena em que ele recusa as roupas compradas por Stevenson dizendo que o pai ganhava 50 dólares por ano, enquanto que Stevenson havia gasto 500 dólares em uma tarde.

Claro que também há pobres e miseráveis nos Estados Unidos, mas alguém com o talento de Li poderia fazer muito sucesso e, de fato, é o que acontece. Ele conquista a simpatia das platéias de Houston e se apaixona por uma bailarina chamada Elizabeth (Amanda Schull). Terminados os três meses, Li decide ficar nos Estados Unidos e, auxiliado por um advogado (Kyle MacLachlan), se casa com Elizabeth, causando um incidente internacional. Após ser mantido contra a força na Embaixada da China, Li recebe autorização para ficar nos EUA, desde que nunca mais retorne ao país natal ou veja sua família. Considerando que em pleno século XXI um país como Cuba ainda proíbe cidadãos de deixarem seu território sem autorização (como aconteceu recentemente com a blogueira Yoani Sánchez), é de se imaginar as dificuldades durante a Guerra Fria.

Apesar de alguns momentos melodramáticos, o filme tem boa fotografia de Peter James e bons números de dança (há encenações de "O Lago dos Cisnes" e "Sagração da Primavera", entre outros). O dançarino Chi Cao, se não é um grande ator, é certamente um ótimo dançarino (é membro da companhia britânica Birmingham Royal Ballet) e Bruce Greenwood está à vontade como Ben Stevenson. A Guerra Fria causou grande impacto tanto no mundo das artes quanto dos esportes (com sucessivos boicotes aos Jogos Olímpicos tanto por parte dos americanos quanto do bloco soviético). A mensagem que fica é que, no fundo, o que importa é o talentos humano, independente da política.


sábado, 28 de janeiro de 2012

J. Edgar

John Edgar Hoover foi diretor do FBI por quase 50 anos. Transformou as técnicas policiais, criou as bases para a criminalística e foi dos primeiros a acreditar na importância das impressões digitais para se descobrir criminosos. Passou por vários momentos importantes da história americana e mundial do século XX; a depressão dos anos 30, a II Guerra Mundial, a Guerra Fria, a "caça às bruxas" da perseguição comunista, o assassinato de John F. Kennedy, o pouso na Lua, o início da Guerra do Vietnã. Uma cinebiografia estrelada por Leonardo DiCaprio e dirigida por Clint Eastwood tinha tudo para ser épica, não? Então por que é que "J. Edgar" não consegue decolar?

Há vários problemas. O mais sério é o ponto de vista adotado por Eastwood e seu roteirista, Dustin Lance Black (do bom "Milk - A Voz da Igualdade"). O filme acompanhar Hoover o tempo todo; quando ele não está falando sem parar, sua voz em off narra seus pensamentos e desacreve acontecimentos da época, em um discurso lento e com sotaque carregado feito por DiCaprio. Não há momentos de respiro, de reflexão. J. Edgar era um rapaz metódico, perfeccionista e muito ligado à mãe (Judi Dench). Acreditava piamente que o Comunismo era uma doença, principalmente quando, logo depois da Revolução Russa de 1917, os Estados Unidos sofreram uma série de atentados a bomba cometidos por grupos radicais. Retraído e homossexual enrustido, Hoover não tinha namoradas, amigos nem família (além da forte presença materna). Leonardo DiCaprio não é mau ator, mas nos últimos anos adotou um estilo de interpretação que se resume a fazer uma cara fechada, com as sobrancelhas franzidas, e falar pausadamente. O roteiro usa de um artifício comum às cinebiografias, que consiste em colocar o personagem principal narrando a própria vida para um jornalista ou biógrafo. Neste caso, uma série de agentes (com nomes genéricos como "Agente Smith") anotam a narração de um velho Hoover (DiCaprio com maquiagem pesada) falando sobre como assumiu a direção do FBI com apenas 24 anos. Figuras históricas como Martin Luther King são mencionadas, mas nunca vistas. O foco está sempre em Hoover. Há destaque para o episódio do sequestro do filho do aviador Charles Lindbergh nos anos 30, que comoveu os Estados Unidos, e Hoover é visto expulsando as pessoas da sala dos fumantes para criar o primeiro laboratório de criminalística do FBI. Mas não fica claro se as técnicas empregadas pelo Bureau eram corretas ou pura adivinhação.

Eastwood parece distante da história que está contando. A trilha sonora, composta pelo próprio diretor, toca nos poucos momentos em que Hoover demonstra algum sentimento por outra pessoa, seja pela secretária particular vivida por Naomi Watts ou pelo companheiro Clyde Tolson (Armie Hammer). O relacionamento com Tolson é guiado com mão pesada por Eastwood, talvez pela falta de familiaridade com o assunto. A única cena de "amor" entre Hoover e Tolson acontece durante uma briga em que os dois partem para a violência. Pouco se fica sabendo sobre quem realmente foi J. Edgar Hoover, além de um egocêntrico que se considerava acima de todos. O roteiro deixa de lado a perseguição pessoal que Hoover praticou contra várias figuras que ele considerava "perigosas", como o ator e diretor Charlie Chaplin, deportado dos Estados Unidos nos anos 50. Fica difícil para o público ter qualquer empatia por um homem que, aparentemente, não passava de um "chato" que fala sem parar pelos 137 minutos do filme.


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Meu irmão é filho único

"Meu irmão é filho único" é passado sob as cores quentes da Itália dos anos 1960. Quente também era a política da época, e as pessoas que a praticavam. Em uma pequena cidade chamada "Latina", uma família tradicional se vê às voltas com as vontades políticas de seus filhos, principalmente Manrico Benassi (Riccardo Scamascio), o mais velho, e Accio Benassi (Elio Germano), o mais novo. Accio, no começo do filme, está em um seminário estudando para ser padre. Mas uma visita do irmão mais velho, que lhe deixa uma foto de uma bela atriz de cinema, faz com que o adolescente tenha uma "crise de fé" (na verdade, repetidas masturbações noturnas) que o fazem abandonar a vida religiosa. Em pouco tempo o jovem Accio está metido com um vendedor de rua, Mario (Luca Zingaretti), que começa a lhe ensinar os princípios básicos do fascismo. O jovem fica fascinado com a figura do "Ducce" e se torna um fascista com carteirinha e tudo, para desgosto da família. O irmão mais velho se torna operário e comunista, e tem várias brigas políticas com Accio. Para complicar a situação, aparece a bela Francesca (Diane Fleri), a namorada de Manrico, que também é comunista e tem discussões com Accio, mas há sempre "algo" no ar quando os dois estão juntos.

Com direção de Daniele Luchetti, o filme é sempre muito colorido, exagerado e italiano. As mudanças ideológicas pelas quais Accio passa representam o modo passional com que os italianos lidam com a política. Accio entra de cabeça nas atividades dos fascistas, que consistiam basicamente em atrapalhar os comunistas e prestar honras a Mussolini. Mas aos poucos as atividades do grupo vão se tornando cada vez mais sérias e perigosas e Accio começa a ter dúvidas sobre o grupo. Fica patente que ele está apaixonado pela namorada do irmão, Francesca, e as discussões políticas entre os dois, no fundo, escondem uma vontade grande de estarem juntos. Accio abandona o grupo dos fascistas apenas para começar um caso com a esposa de seu ex-companheiro, Mario.

Tudo parece leve e inconseqüente, mas com o tempo as coisas ficam mais complicadas principalmente para o irmão mais velhos de Accio, Manrico, que aparentemente está envolvido em atentados terroristas promovidos pelos comunistas. Quanto a Accio, há uma cena em que o próprio comenta que as revoluções de 1968 varreram o mundo todo, menos a pequena cidade de Latina, onde ele se encontrava. Não demora muito, porém, que os problemas do irmão cheguem até ele, que tem que decidir se vai se envolver ou não.

Um filme vibrante e divertido, com uma energia que, por vezes, lembra os bons tempos do velho cinema italiano.