quarta-feira, 28 de maio de 2008

Bullitt (ou Cut to the chace!)


Há uma expressão no cinema americano que diz “Cut to the chace!”. Literalmente, significa “Corte para a perseguição!”. A frase diz muito sobre o filme americano tradicional que, no fundo, nada mais é do que uma série de perseguições entrecortadas por algum diálogo. E isso vem desde os primórdios de Hollywood. “The Great Train Robbery” (“O grande roubo do trem”, de 1903), de Edwin Porter, assombrou as platéias do início do cinema com suas cenas de perseguição. O filme serviu de base para, basicamente, todo o cinema americano que se seguiu.

Falando em perseguição, um clássico vem à mente: o filme “Bullitt”, interpretado por Steve McQueen em 1968. Dirigido por Peter Yates, “Bullitt” tem uma das mais famosas cenas de perseguição do cinema. Steve McQueen era piloto de moto e carro e diz a lenda que ele pilotou seu Mustang pessoalmente durante toda a seqüência. Irônico pensar que a famosa perseguição dura por volta de onze minutos em um filme com aproximadamente duas horas; “O grande roubo do trem” de Porter tinha, no total, doze minutos de duração.

A seqüência deu ao filme o Oscar de montagem (edição) em 1969 e, apesar de conter certas falhas óbvias (reparem que o mesmo Fusca verde aparece pelo menos três vezes durante a seqüência), é um primor de ritmo e montagem. Curioso também como os papéis de perseguidor e perseguido se invertem. Steve McQueen interpreta um policial encarregado por Robert Vaughn de proteger uma testemunha chave que iria depor contra a “Organização” (provavelmente a máfia). A testemunha acaba sendo morta pelos dois assassinos profissionais que são perseguidos por McQueen na famosa cena. “Bullitt” foi dos precursores de um tipo de filme policial que se consolidaria nos anos 70 com Clint Eastwood e seu “Dirty Harry”.

Engraçado ver o nascimento de certos clichês como o policial que passa por cima da lei para conseguir seu objetivo, ou o chefe de polícia que dá um sermão a seu subordinado, para em seguida liberá-lo, e assim por diante. O filme tem uma bela e realista fotografia em Cinemascope de William A. Fraker e trilha do famoso compositor Lalo Schifrin. A montagem vencedora do Oscar é de Frank P. Keller. Notem também a presença de Robert Duvall como um motorista de táxi. Um DVD duplo foi lançado uns anos atrás com vários extras, como um documentário sobre a arte invisível da edição. O filme serviu de inspiração para várias outras produções, como “Fogo contra Fogo” (“Heat”, 1995), grande filme de Michael Mann com Robert DeNiro, Al Pacino e Val Kilmer. Toda a seqüência final passada no aeroporto de “Fogo contra Fogo”, por exemplo, é muito semelhante à seqüência final de “Bullitt”. A maravilhosa Jacqueline Bisset está em “Bullitt” apenas como “material decorativo”. Há só uma cena, francamente desnecessária, em que a personagem de Bisset fala mais do que alguns segundos, questionando a moral e os sentimentos de Bullittt. Steve McQueen era famoso por seu temperamento ruim e por ataques de ciúme contra companheiros de tela, principalmente em seus filmes em “grupo” como “Sete Homens e um Destino” e “Fugindo do Inferno”. Mas em “Bullittt” ele reina sozinho. E o que importa, de verdade, é quando o filme corta para a próxima cena de perseguição.
Cut to the chace!

Veja abaixo a perseguição em Bullitt

Veja "The Great Train Robbery":

2 comentários:

Anônimo disse...

Sempre quis ver esse filme! Sabe se no Brasil o titulo chama mesmo Bullitt - Cut to the Chace?

João Solimeo disse...

Não, não...o filme se chama apenas "Bullitt". Já vi pra vender na FNAC e provavelmente vc encontra em boas locadoras.