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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Os Infratores

"Os Infratores" vale mais pelos aspectos técnicos e pelo elenco do que pelo filme. Passado nos anos 1930 durante a "lei seca", ele é extremamente violento e trata da família Bondurant, formada por três irmãos, Forrest (Tom Hardy, de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge"), Howard (Jason Clarke) e Jack (Shia Labeouf, de "Wall Street"). A "lei seca" proibia a fabricação e comercialização de bebidas alcoólicas, o que causou o surgimento de milhares de produtores ilegais de bebida. No condado de Franklin, no estado da Virginia, havia tantos fabricantes que, à noite, as florestas ficavam iluminadas pelo fogo dos alambiques ilegais. A família Bondurant é uma das mais prósperas, e há uma lenda que diz que os irmãos são invencíveis, quase imortais.

Os negócios da família são ameaçados pela chegada do agente federal Charlie Hakes (Guy Pearce, de "Prometheus"), um homem elegante mas extremamente cruel. Vestido sempre com roupas sociais, gravata borboleta e luvas, Hakes tem os cabelos tingidos e a fala suave, mas é um homem corrupto que quer uma parte do negócio dos Bondurant. Forrest, o mais velho, se recusa a colaborar e começa uma guerra particular com o agente federal. O problema é que o roteiro (escrito pelo músico e ator Nick Cave), uma vez estabelecida a premissa da história, não consegue desenvolvê-la direito. Fica clara logo no início a situação de antagonismo entre os irmãos Bondurant e Charlie Hakes mas, estranhamente, nada acontece por boa parte do filme. Ou, quando acontece, não há as consequências esperadas. Há uma sequência, por exemplo, em que Hakes dá uma surra em Jack, o irmão mais novo, interpretado por Shia Labeouf. É de se esperar que os irmãos mais velhos de Jack, cabeça quente que são, ataquem Hakes, mas nada acontece. Não só isso, depois de ser surrado violentamente no rosto, Jack aparece com apenas alguns hematomas na cena seguinte. Para um filme tão cuidadoso na direção de arte e recriação de época, falhas como esta chamam a atenção. Em meio a tanta testosterona, há duas mulheres na trama. Uma é Maggie, interpretada por uma das atrizes mais belas hoje em Hollywood, Jessica Chastain (de "A Árvore da Vida", "Coriolano", "Histórias Cruzadas"). Ela é uma ex-dançarina de Chicago que deixa a cidade grande para, ironicamente, procurar por uma vida mais calma no interior. Ela arruma emprego no restaurante dos Bondurant e, aos poucos, ganha o coração duro do irmão mais velho, Forrest. A outra mulher é Bertha (Mia Wasikowska, de "Inquietos"), a filha do pastor da cidade. Ela atrai a atenção do personagem de LaBeouf, que faz de tudo para impressionar a moça, como comprar roupas novas e um carro caro.

"Os Infratores" é dirigido pelo australiano John Hillcoat e tinha tudo para ser muito bom, mas o espectador fica esperando o filme decolar. Há boas cenas de suspense e tiroteio entre os irmãos e a polícia, e cenas ternas de romance entre Shia Labeouf e Mia Wasikowska, mas é tudo muito longo e, o que é pior, inconsequente. O grande ator Gary Oldman, que faz o gângster Floyd Banner, é simplesmente esquecido pelo roteiro no meio do filme. A lenda sobre os Bondurant serem imortais, ao invés de ser contrariada pelo roteiro, acaba sendo confirmada por várias situações difíceis de acreditar. Jessica Chastain é atacada por dois gângsters violentos em uma cena e, pouco depois, aparece intocada. E o próprio caráter dos Bondurant é incongruente. Eles são vistos praticando atos de extrema violência em alguns momentos, mas são incapazes de fazer mal a Charlie Hakes, cada vez mais sanguinário. Assim, "Os Infratores" pode ter seus bons momentos, mas acaba sendo uma experiência decepcionante. Visto no Kinoplex, Campinas.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Inquietos

Não há nada romântico a respeito do câncer, e este é o maior problema com "Inquietos", de Gus van Sant. Com produção de Ron Howard e Brian Grazer (de blockbusters como "Apolo 13" e "Cowboys e Aliens" ) o filme de Van Sant tem "alma" de filme independente. Atores relativamente desconhecidos, trilha sonora "alternativa" e assuntos considerados tabu no cinema americano, como morte e suicídio. O filme é "bonitinho" demais, o que compromete.

Enoch Brae (Henry Hopper, filho de Dennis Hopper) é um rapaz depressivo que gosta de entrar de penetra em velórios. Ele perdeu os pais em um acidente de carro e esteve à beira da morte por meses. Ele mora com uma tia em uma casa que é o protótipo da casa mal assombrada, grande e escura, e tem um amigo imaginário chamado Hiroshi (Ryo Kase), que diz ser o fantasma de um piloto kamikaze japonês. Enoch conhece Annabel (Mia Wasikowska, pense na garota mais gracinha que se pode imaginar) em um destes velórios e os dois se tornam amigos. Tudo no casal lembra a morte; Enoch apresenta seus pais a Annabel no cemitério, claro, e ela é interessada em insetos que se acasalam na carcaça de animais mortos. Annabel está morrendo; ela é paciente teminal de câncer e os médicos lhe deram três meses de vida. Junta-se um rapaz apaixonado por morte com uma moça que está para morrer e o resultado é difícil de classificar (uma "comédia romântica mórbida"?).

O elenco deve ser elogiado. O filho de Dennis Hopper é bom e sua interpretação ao lado de Wasikowska funciona bem. A amizade entre os dois logo se transforma em amor e, com três meses de vida, não há tempo a perder e o casal passa a maior parte do tempo juntos, seja em transfusões de sangue ou visitando o necrotério do hospital de Annabel. Nem tudo funciona no filme, no entanto. Sim, o casal é uma gracinha e há muita "nobreza" por parte de Enoch em aceitar o amor de Annabel nessas condições, mas se a "mensagem" do filme é contra o preconceito, o rapaz tinha que ser um suicida que tem conversas com pilotos kamikaze? Fica aparente também a tentativa de Gus Van Sant (ou dos produtores) em deixar tudo sempre o mais leve possível. Não há problema algum em encarar a morte com bom humor, mas o filme sofre de um excesso de "gracinha" que chega a incomodar. A trilha sonora de Danny Elfman (que já viu dias melhores em sua parceria com Tim Burton) e as canções "alternativas" tocam alegremente em qualquer situação que poderia ser mais dramática, como se o espectador tivesse que ser pego pela mão e não enfrentar o que, repito, não tem graça alguma: Annabel está morrendo de câncer.

Mia Wasikowska carrega o filme nas costas, mas sua personagem, que deveria ser o centro de atenção, é colocada de lado em sequências em que Enoch está brigando com seu fantasma imaginário ou agindo como um garoto mimado. E por que um filme que fala tanto sobre morte evita encará-la de frente no final? "Inquietos" é cheio de boas intenções, tem bom elenco e várias cenas interessantes, mas acaba se afogando no próprio açúcar. Visto no Topázio Cinemas.